Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que a Amazônia teve um aumento significativo no número de queimadas em junho, com 2.562 focos contabilizados. Isso representa o maior registro para o mês nos últimos 15 anos, sendo menor apenas do que em 2007, quando foram computados 3.519 pontos de incêndio.
No acumulado de 2022, já são 7.553 focos identificados, número 19% maior do que os 6.387 pontos verificados nos primeiros seis meses do ano passado. Esse também é o maior índice para o semestre desde 2019, quando foram contabilizados 10.606 focos de incêndio.
Governo Bolsonaro marcado pela escalada do fogo na Amazônia
É possível notar uma tendência alarmante: desde o início do atual governo federal, a temporada de queimadas na Amazônia tem começado sistematicamente com um aumento importante sobre o período anterior.
Em junho de 2019, primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro (PL), foram identificados 1.880 focos de incêndio. No mesmo mês, em 2020, foram 2.248, aumentando para 2.305 no ano passado.
Ainda segundo o INPE, embora junho marque o início da estação seca no bioma, ainda não é o período mais crítico. Historicamente, os maiores números de queimadas e desmatamento são registrados entre agosto e novembro, quando se intensifica a estiagem no ecossistema, facilitando as mudanças no uso do solo e dando combustível às chamas.
Para a gerente ambiental da campanha de florestas do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzeti, esse cenário tem total relação com o governo Bolsonaro. “É resultado de todo um contexto não só de tolerância como de incentivo ao crime ambiental que se estabeleceu no Brasil nos últimos anos”, afirmou a ativista à DW, emissora de TV alemã.
Ela avalia que, além do enfraquecimento dos órgãos ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e a falta de um plano robusto de combate e prevenção ao desmatamento, a tramitação de projetos antiambientais no Congresso Nacional também influencia.
“Mesmo que essas alterações ainda não tenham sido aprovadas, só a expectativa de flexibilização da lei, seja fundiária ou ambiental, já age como estímulo à destruição”, disse ela, em referência a projetos apelidados de “Pacote da Destruição”, que inclui mudanças de licenciamento ambiental, liberação de agrotóxicos e a permissão para exploração das terras indígenas.
A ativista, que é mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Escola de Economia e Ciência Política de Londres (LSE), alertou ainda que outro elemento pode impulsionar o desmatamento e as queimadas nos próximos meses: as eleições. “Esse pode ser um possível último ano de governo Bolsonaro, em que o crime foi muito incentivado. Então, pode haver uma corrida desenfreada para desmatar porque ‘não se sabe o dia de amanhã’”, analisa.
Cerrado e Pantanal também apresentam alta no número de focos de incêndio
A situação é preocupante também para outros biomas. No Cerrado, por exemplo, as queimadas dispararam em junho, quando foram registrados 4.138 focos de incêndio, índice 10% acima da média para o mês. No acumulado do ano, o número já chega a 10.768, o que representa um aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 9.568 focos entre os meses de janeiro e junho.
O Pantanal também apresentou alta: entre janeiro e junho, foram identificados 503 focos, índice 35% maior do que o mesmo período de 2021, quando foram registrados 371 pontos de incêndio.
De acordo com a pesquisa divulgada pelo INPE, a Caatinga, a região dos Pampas e a Mata Atlântica registraram redução no número de focos no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado.