Ausência de medicamentos para tratar verminose, falta de profissionais da saúde e aumento de casos de malária foram denunciados em carta pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) da Terra Indígena (TI) Yanomami, localizada entre Roraima e Amazonas. O documento foi enviado para o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yekwana (Dsei-YY), do Ministério da Saúde no dia 12 de julho.
A associação relata que nos últimos nove meses os postos de saúde da TI Yanomami estão com estoques zerados do medicamento Albendazol – “remédio básico para o tratamento de verminose”, como explicam as lideranças.
Diante da falta desse medicamento, “nossas crianças chegam ao ponto de expelir vermes pela boca” e “há muito tempo não está sendo feito o tratamento com regularidade”, denuncia a carta. No documento, as lideranças detalham que, das comunidades atendidas pelo Dsei, apenas 10% têm acesso à água potável por meio de poços artesianos e demais sistemas.
As lideranças relatam também que os casos de malária aumentaram exponencialmente em todas as regiões da Terra Indígena Yanomami nos anos de 2020 e 2021. Já de acordo com Dados do Ministério da Saúde, houve uma diminuição de 5% dos casos de malária: 145.188 em 2020 e 137.648 em 2021.
Somam-se as denúncias, a falta de medicação para tratar a malária e insumos, como lâminas, lancetas e corante, e a deficiência de profissionais das equipes multidisciplinares de saúde e microscopistas Yanomami.
A situação relatada acima tem piorado principalmente, segundo o documento, nas comunidades Korekorema, Kawani e na região de Homoxi. Muitos indígenas dessas comunidades têm ido aos postos de saúde, mas os encontram de portas fechadas. Só no mês de junho, três indígenas dessas comunidades morreram devido à falta de tratamento e medicamentos para doenças como a malária e outras doenças.
Na região de Homoxi, os postos de saúde estão fechados e sem a presença de agentes da saúde. Nessa localidade há muitos problemas relacionados a verminoses e, além disso, muitos ianomâmis tiveram problemas respiratórios e sintomas da covid-19, mas não puderam saber o diagnóstico ao certo diante da falta de testes da covid-19, segundo a carta.
O documento ainda alerta para escalada de destruição infantil na TI Yanomami que tem sido agravada pela presença de garimpeiros ilegais no território. Os Ianomâmis e autoridades locais estimam que haja mais de 20.000 garimpeiros ilegais em suas terras.
Em nota, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e do DSEI-Y, informou que não há desabastecimento do medicamento albendazol ou outros fármacos, e alegou que continuam fazendo testes de covid-19 em áreas de maior incidência. Veja nota completa abaixo:
“O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e do DSEI-Y, informa que não há desabastecimento do medicamento albendazol ou outros fármacos. O estoque do distrito está reforçado e está sendo distribuído para abastecer os Polos Base da região. Além disso, uma nova recarga está prevista.
A Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena do DSEI-Y continua fazendo busca ativa por casos de Covid-19 e realizando testes em pacientes que vivem em áreas de maior incidência da doença. Não há falta de atendimento de saúde na região, uma vez que as equipes tem adaptado sua rotina de acordo com as especificidades e desafios de cada polo base ou aldeia.
O DSEI-Y está em constante vigilância do cenário epidemiológico, garantindo a melhor assistência aos povos Yanomami e Ye’kwana por intermédio de ações de promoção, prevenção e intervenção na saúde da população indígena da região.”
Dados de malária em áreas indígenas
De acordo com Boletim Especial do Ministério da Saúde, de abril de 2022, entre 2012 e 2021 foram registrados um total de 315.912 casos de malária com transmissão em áreas indígenas da região amazônica brasileira, com média de 31.591 casos anuais, o menor número de casos registrados foi de 20.615 casos em 2014 e o maior foi de 46.795 no ano de 2020.
O estado que apresentou a maior quantidade de casos de malária em áreas
Indígenas foi o do Amazonas com registros acima de 20 mil casos no ano de 2020 e quase 22 mil em 2021. Os estados de Rondônia e Acre, de acordo com dados preliminares do Boletim, apresentaram aumento de 58,2% e 23,5% no número de casos entre os anos de 2020 e 2021.
O boletim concluiu que de 2020 e 2021, os maiores registros de casos de malária foram nos Dsei dos Yanomami, Alto Rio Negro, Rio Tapajós, Leste de Roraima, Médio Rio Solimões e Afuentes, Porto Velho, Médio Rio Purus e Vale do Javari, abrangendo cerca de 93% do total de casos de malária em áreas indígenas registrados em ambos os anos. Essas áreas também possuem alto risco de incidência para casos de malária, segundo o documento.