Tentando estufar o peito para dizer em voz alta quem é que manda na Câmara Municipal de Boa Vista, o vereador Genilson Costa (SD), presidente daquela Casa, confirmou que o governador Antonio Denarium (PP) tenta intervir em decisões daquele Poder. Se for verdade, é tráfico de influência, crime contra a Administração Pública. Claramente, o vereador expôs uma relação de toma-lá-dá-cá mantida com o chefe do Executivo estadual.
A troco de quê houve esse desabafo, não saberemos, já que Genilson arrependeu-se das expressões utilizadas durante seu discurso na tribuna daquela sessão plenária e depois mandou avisar que não falou o que tinha falado em alto e bom som. Acusou jornalistas de disseminação de fake news, ainda que haja vídeo comprovando cada uma das palavras ditas, como vê-se abaixo:
“Vamos ter mais embates e deixo claro aqui. Já adianto o que pode acontecer no futuro. Politicamente sou governador Denarium. Mas não adianta o governador me ligar para eu prejudicar uma categoria porque o projeto é do Executivo, que eu não vou atendê-lo. Vocês não sabem o que acontece dentro do parlamento. E não posso falar aqui até por questão de ética. Mas a gente chega o momento que a gente tem que desabafar. Vocês não sabem o que acontece dentro do parlamento. E não posso falar aqui até por questão de ética. Mas a gente chega o momento que a gente tem que desabafar”, disse.
Assista:
Logo após a repercussão negativa da fala, Genilson pediu que sua assessoria enviasse uma nota à imprensa com as palavras corretas, aquelas que ele quis dizer mas não disse, em uma tentativa vã de reduzir o impacto causado por suas afirmações. A nota não responde aos questionamentos públicos, nem justifica as falas transcritas acima, tampouco prova algum caráter injurioso na notícia veiculada.
“A cada embate que tem na Casa me sinto mais orgulhoso de estar fazendo o meu papel como nunca nenhum outro presidente fez. Precisamos entender que entre a Câmara e a Prefeitura existe a população. E até o presente momento a Mesa Diretora nunca foi contra a população. Desafio qual classe, categoria que procurou a Câmara e não foi atendida. Eu sou população. Faço parte da base do Governo, mas nunca vou querer guerra com nenhum dos Poderes. Esse foi meu pronunciamento hoje na sessão, infelizmente distorcido de forma irresponsável pelo jornal”, publicizou em nota, sem justificar absolutamente nada.
Genilson diz ainda que “tem pautado a condução dos trabalhos na mais absoluta isenção, imparcialidade e sempre, inquestionavelmente, defendendo o que é de interesse da população”. Acerca da pressão sofrida a ponto de necessitar de um desabafo público, como o mesmo fez durante seu discurso, ou sobre o que o vereador quis dizer com “não posso falar aqui por questão de ética”, ou ainda a parte em que diz que “não adianta o governador me ligar para prejudicar uma categoria”, além das demais afirmações feitas, até agora não foram explicadas com nenhuma razoabilidade pelo parlamentar.
O fato é que o vereador já tem graves problemas na esfera criminal, após o desencadeamento da operação Tântanos, da Polícia Federal, que o investiga por suposta participação em um grande esquema de tráfico de drogas. Ele diz que a ação foi perseguição política da PF, por causa de seu apoio ao governador. Tido agora como uma bomba-relógio no Palácio do governo, Genilson que já não estava nos seus melhores dias com o governador, ainda é tido como uma carta-coringa para Denarium, em sua desesperadora batalha para manter-se no cargo, este ano. Com ele no comando da Câmara, fica mais fácil tentar segurar os voos do maior case de sucesso de sua principal rival, Teresa Surita: a prefeitura de Boa Vista.
Pelo menos até outubro, o vereador e o governador ainda têm muitas declarações para trocar. Mas após seu último discurso, o presidente da Câmara deveria responder na Justiça sobre o que quis ou não quis dizer, exatamente quando disse o que disse.
Solução para os cuidadores
Não teve Genilson, Denarium, ítalo Otávio, Juliana Garcia ou até o deputado Renato Silva (oi?) que dessem jeito. O Sindicato dos Servidores Municipais (Sitram), na pessoa de sua presidente, Suely Cardoso, anunciou o fim da greve dos cuidadores que durou 51 dias, com um saldo positivo de conquistas para a categoria. Mais professores e cuidadores passarão por concurso e, com isso, o prefeito Arthur Henrique (MDB) se comprometeu a reduzir a jornada desses profissionais de 40 para 30h/semanais.
Vereadores ainda tentam creditar a solução da paralisação à Câmara, mas é sabido por todos que, quem pôs fim ao problema, foi Arthur. Mesmo diante de todo um palanque montado pelos parlamentares, inclusive com episódios de sabotagem de votação dos próprios PLs agora aprovados, a greve só chegou ao fim quando a categoria entendeu que a proposta do prefeito era a mais viável desde o começo. E que os vereadores falavam muito, mas, na prática, avançavam pouco.
Ainda que com as inúmeras tentativas de inflamar os servidores da educação contra o Executivo, a Câmara se viu sem saída, já que os próprios cuidadores começaram a entender o caráter político de tal suporte. Os vereadores votaram e aprovaram sim, pois esta é a função deles. Não é voluntariado. Votar projetos de lei é obrigação do Legislativo. Reconhecidamente, neste caso, os louros vão para o prefeito, e para a categoria que progrediu diante da persistência de suas lutas.