A tecnologia de radar do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que serve para monitorar o derramamento de óleo nos oceanos pode ser aplicada também para aprimorar a vigilância sobre o garimpo na Amazônia. Após testes, nesta semana a instituição divulgou que o radar orbital acoplado a um satélite apresentou bons resultados ao vigiar rios, encontrando balsas geralmente usadas pela mineração ilegal.
A utilização da tecnologia por órgãos de vigilância, contudo, depende de investimento e vontade política, de acordo com Luiz Aragão, chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Inpe.
“Isso envolve custos de processamento e armazenamento de dados para transformá-los em informação, além de demandar pessoal para implementar o sistema, infraestrutura [servidores, principalmente] para disponibilização dos dados, e ainda a interface para visualização dos dados e o custo da operação ao longo do tempo”, afirmou Aragão.
Apenas em terras indígenas, uma pesquisa da rede MapBiomas aponta que a área ocupada pelo garimpo cresceu 495% no Brasil entre 1985 e 2020.
O Inpe chegou ao resultado após aplicar nos rios a mesma tecnologia de visibilidade usada para monitorar embarcações no mar, geralmente usada de apoio a eventos de vazamento de óleo. O que se descobriu foi que a superfície mais lisa das águas calmas proporciona imagens ainda mais nítidas do que as captadas em território marítimo
“O exemplo das balsas mostra a possibilidade de monitoramento deste tipo de atividade [o garimpo], dia e noite e com praticamente qualquer cobertura de nuvens, contribuindo para as atividades de vigilância nos nossos rios e em operações de cumprimento da lei”, afirma Rafael Paes, pesquisador do Inpe e oficial da Força Aérea Brasileira.
Apesar da urgência pela ampliação da vigilância na Amazônia, onde o Ibama hoje consegue agir em apenas 1,3% dos casos detectados de desmatamento pelos radares brasileiros, a nova funcionalidade apresentada pelo Inpe ainda não tem previsão de implantação.
“Essas questões ambientais são sempre muito urgentes na pesquisa, são indutores da inovação. Nós noticiamos a pesquisa para informar a sociedade das possibilidades que existem de dar assistência às iniciativas de gestão territorial e ambiental. Isso serve como um cardápio de opções que pode se implementar pelo poder publico”, disse Aragão.