As fortes chuvas que caem em Boa Vista servem para desnudar a realidade oculta de uma cidade que privilegia as áreas centrais e esquece os que moram nos bairros mais afastados do Centro. Revela ainda as pretensões cada vez mais explícitas da prefeita Teresa Surita (MDB) de deixar o Centro como uma fachada política em sua despedida no fim do ano.
Apesar da quarentena decretada por ela, as grandes obras municipais não pararam. Todas as ruas e avenidas do Centro estão sendo recapeadas, mesmo que o asfalto esteja em boas condições, como a Avenida Ene Garcez e a Capitão Júlio Bezerra, por exemplo. Nessas vias, o asfalto está sendo raspado para receber uma nova camada asfáltica por cima. É o asfaltamento de avenidas já asfaltadas.
Enquanto isso, a periferia padece a cada inverno e verão. As chuvas que caíram no final da tarde de ontem deixaram centenas de famílias ilhadas dentro de suas próprias casas ou mesmo com suas casas alagadas, a exemplo dos moradores dos bairros Senador Hélio Campos e Laura Moreira, no Conjunto Cidadão, onde as famílias estão pedindo socorro.
Na Rua CC 12, no Conjunto Cidadão, desde a fundação daquela área habitacional as casas alagam. Há seis anos que um morador pede insistentemente para a Prefeitura de Boa Vista redimensionar o único bueiro que existe na área para dar vazão à água das chuvas, mas o problema nunca foi resolvido. A Prefeitura envia operários para o local, que fazem apenas um serviço meia-boca e vão embora.
Na chuva de ontem, a cena de tragédia se repetiu, mas com uma agravante: uma placa e madeiras usadas na obra nunca concluída pela Prefeitura ajudaram a entupir o bueiro já mal dimensionado. Mais sofrimento e prejuízos aos moradores, os quais têm suas casas submersas a cada chuva.
Trata-se de apenas um dos casos na periferia. Áreas não privilegiadas pela Prefeitura, que faz uma fachada para ganhar voto, acabam sofrendo as duras consequências da falta de esgoto, de pavimentação e de outras infraestruturas. Enquanto isso, a Prefeitura retira o asfalto em boas condições para recobrir as vias centrais com asfalto novo, a fim de justificar gastos de recursos federais e concretizar a cidade de fachada da qual Teresa tanto faz propaganda.
No momento em que o povo morre de coronavírus por falta de atendimento básico nos postos de saúde, Teresa fica postando, em seu Twitter, as obras que ela quer inaugurar numa festa política no fim do ano, quando ela for deixar o mandato depois de 20 anos como prefeita. Tudo isso às custas do sofrimento de um povo já castigado pela pandemia e maltratado nos bairros periféricos sem infraestrutura.
Uma triste realidade de uma cidade que tem duas caras, a do Centro (especialmente o complexo Ayrton Senna, o bibelô político da prefeita) e a dos bairros mais afastados, debaixo de lama no inverno, e de poeira e buracos no verão.
*Colunista