Há uma campanha ostensiva e sórdida, no Brasil, para desacreditar e desmoralizar a imprensa. O alvo preferencial é a TV Globo, que por longos anos foi um poder paralelo capaz de desestabilizar governos na mesma medida em que criava mitos, a exemplo do “caçador de marajá”, Fernando Collor de Melo, que foi sacado da Presidência da mesma forma que foi alçado até lá pela Globo.

Embora as empresas jornalísticas sejam acusadas de manipular e de sempre estarem de conluio com os governos, nada justifica essa ostensiva campanha para minar a importância da imprensa, instrumento imprescindível para a manutenção da democracia e o exercício da cidadania.

A histeria provocada nas pessoas pelos que atacam a imprensa tem gerado  cenas grotescas de grupos de brutamontes querem agredir jornalistas da Globo, mesmo eles sendo apenas funcionários trabalhando, cumprindo ordens e pautas de seus superiores. Mas a cegueira da qual essas pessoas foram acometidas não as deixa enxergar isso nem separar quem é joio e quem é trigo.

Na mesma medida em que demonizam e agridem parte da imprensa ou de uma empresa de comunicação, essas pessoas endeusam outra parte e outras empresas que igualmente têm rabo preso com governos, políticos, igrejas ou partidos. Se querem cobrar moralização da imprensa, essa cobrança tem que ser para todos, sem partidarismo, paixões ou predileções.

Não é só a Globo que precisa ser passada a limpo, mas todas as demais emissoras e veículos  que fazem o comércio da fé, partidarismo político, mercantilismo e manipulação de mentes e corações.  E passar a limpo não significa agredir fisicamente ou escalpelar jornalistas em praça pública, mas tomar consciência crítica por meio da educação.

Se tem veículos vendidos para governos a ou b, pastores e empresários, isso não significa que a instituição imprensa precisa ser destruída a qualquer custo. O que se torna necessário é a tomada de consciência de que o poder da manipulação se manifesta de várias formas, muitas vezes implicitamente. Muitas vezes, o poder da comunicação está mais em silenciar fatos do quem em divulgá-los.

Imprensa que não incomoda não faz nenhum bem à sociedade com bases sólidas na democracia. Imprensa que só elogia nem pode ser chamada de imprensa.  A Imprensa com “i” maiúsculo precisa exercitar a consciência crítica das pessoas, para que elas próprias sejam capazes de discernir o que é manipulação, o que é propaganda, partidarismo ou somente mercantilismo, que transforma opinião púbica em consumidores.

O cidadão com criticidade consegue estar acima disso, buscando furar os bloqueios e enxergar as contradições e mentiras sem que ele se torne um sanguinário revoltado, um extremista  que fica querendo caçar a cabeça de jornalistas cumprindo suas pautas no meio da rua.

Os donos do poder não estão na rua cumprindo pauta nem nas bancadas apresentando telejornal.  Eles estão no bem-bom do ar-condicionado de seus escritórios e de seus gabinetes. Eles não põem a cara na rua nem estampam seus nomes em matérias jornalísticas.  Eles estão na segurança de seus negócios, seja nas tetas de governos ou nas asas de grandes corporações que fazem o jogo dos poderosos.

As pessoas precisam abrir a mente para não entrarem nesse joguete comandado por gente que teme a imprensa, querendo destruir um dos pilares da democracia, tentando fazer as pessoas acreditarem que “jornalismo” é mensagem de WhatsApp e postagem de rede social, ambos infestados de fake news e das mais absurdas jogadas de interesses. A morte da imprensa só interessa a essas redes obscuras que surgiram a partir da internet.

O cidadão precisa tomar o seu devido lugar na sociedade, cobrando transparência de governos, da imprensa e das demais instituições. Somente o cidadão bem informado é capaz de transformar uma sociedade para melhor. Estão colocando em prática a transformação de gente pensante em pessoas extremistas e intolerantes, que não conseguem mais dialogar nem respeitar as diferenças que são inerentes ao ser humano, como a opinião. Cuidado com isso. Estão nos empurrando para um abismo maior.

*Colunista

 

 

 

 

 

 

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