Você já ouviu falar em sororidade? Apesar de não existir um período específico em que o termo ficou conhecido no Brasil, as buscas pelo termo no Google aumentaram cerca de 450% em apenas cinco anos. A sororidade consiste em ser fraterna com outras mulheres, com o objetivo de reforçar a união entre elas e de combater estereótipos machistas. Na sociedade brasileira, o termo vem passando por diversas modificações e cada vez trazendo mais adeptas à prática. A palavra, inclusive, chegou a ser citada no BBB20 por Manu Gavassi, ao justificar seu voto para o Paredão em um homem, Felipe Prior.
Historicamente, o termo surgiu da segunda onda do feminismo durante a década de 60, no qual as mulheres passaram a compor de forma mais ampla os debates sobre desigualdades de gênero, como explica a doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Eliana Coelho. O termo logo estabeleceu uma relação de combate aos micromachismos, que consistem em pequenas atitudes que, por serem perpetuadas diariamente, passam a fazer parte do nosso cotidiano. “A ideia de irmandade entre as mulheres veio para contrapor a ideia de fraternidade entre os homens e somar na luta contra os micromachismos”, fala.
O termo vem sendo debatido em pesquisas acadêmicas e em grupos antirracistas, como expõe a mestranda em Antropologia Social pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Izabel Accioly. “A dororidade se refere não apenas sobre a dor compartilhada por quem sofre as violências do machismo e do racismo, mas também da cumplicidade que nós mulheres negras compartilhamos”.
A pesquisadora afirma que diante do compartilhamento das vivências entre essas mulheres, é possível lutar por questões que são especialmente difíceis para as mulheres negras, como o feminicídio. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019, 88,8% das vítimas foram assassinadas por seus companheiros ou ex-companheiros e 66,5% dos crimes aconteceram nas residências das vítimas. No perfil das vítimas, 61% são mulheres negras e 70,7% cursaram até o ensino fundamental.
“Precisamos entender que nós mulheres não somos todas iguais. Somos diversas e precisamos compreender e respeitar as nossas diferenças e os diversos modos de ser feministas. A dororidade nos aproxima e nos fortalece”, afirma Izabel.