Preparar os colaboradores para serem os futuros líderes da organização é fundamental para garantir o crescimento e a sobrevivência da empresa. Nesse sentido, o programa de trainees é uma metodologia valiosa para formar os jovens profissionais. Quando avaliarmos de perto os recursos, critérios e, principalmente, os excelentes resultados que são alcançados pelos programas de treinamento, tendemos a nos questionar por que a metodologia não é empregada em outros departamentos?
O trainee surgiu como uma forma de garimpar os profissionais mais promissores do mercado de trabalho e treiná-los para assumir a liderança da empresa no médio e logo prazo. Durante um bom tempo, e acredito que ainda hoje, o programa é objeto de desejo de muitos jovens recém-formados. Os profissionais enxergam no modelo de treinamento uma forma de começar a carreira de maneira estruturada, em uma grande organização, com boas oportunidades de crescimento e desenvolvendo, desde o início, habilidades importantes de liderança e gestão.
Quando analisamos o programa mais de perto, vemos inúmeras vantagens, tanto para as empresas quanto para os profissionais. Os benefícios vão muito além de recrutar, desenvolver e reter talentos, por isso mesmo a metodologia se torna um desperdício quando é usada apenas para esse tipo de programa. Eu defendo a ideia de que os recursos e cenários criados para os programas de trainees sejam aplicados, dentro do possível, em todas as verticais da empresa.
Uma das características mais marcantes de um programa de trainee é o job rotation, onde os profissionais sentam-se em várias cadeiras da empresa não só para aprender como desempenhar aquela função, mas também para entender o impacto que ela tem em todo o ecossistema. Agora, imagine o poder de estender isso para todos os departamentos. Colocar os profissionais para revezarem as tarefas, desperta a colaboração, aumenta a sinergia entre os membros do time, fomenta e facilita a troca de ideias, além de fortalecer o engajamento e trazer resultados de curto e médio prazo para a realização das tarefas.
Algumas empresas que utilizam o conceito de trabalho por projeto, já estão utilizando o job rotation na hora de montar e gerenciar suas equipes. Explicando brevemente, o trabalho por projeto consiste em alocar e realocar profissionais de diferentes áreas e com habilidades complementares para entregarem soluções sob demanda. Ao terminar o projeto, a equipe é desfeita e realocada em suas respectivas áreas ou em um novo projeto que possa surgir.
Um dos temas sensíveis em qualquer empresa e que pode se beneficiar da metodologia é a sucessão empresarial. Esse momento onde a diretoria está prestes a se aposentar, costuma ser bem delicado, principalmente nas empresas familiares e de médio porte. Em alguns casos, quando não há governança corporativa estruturada, muita informação, valores, conceitos e cultura podem se perder neste tipo de transição. Usar o método trainee para preparar os gerentes de cada área para tornarem-se diretores é uma forma de percorrer esse caminho sem grandes sustos. Ao planejar o pipeline de sucessão, o departamento de recursos humanos, que está sendo cada dia mais cobrado por fazer parte das decisões estratégicas, tem muito a ganhar. Principalmente em relação a prever os gargalos e antecipar soluções.
É claro que algumas adaptações precisam ser feitas. É inviável usar o programa na mesma formatação, com os mesmos períodos e profundidades de treinamento. O que eu defendo é o uso do conceito e da metodologia. A imersão na cultura, por exemplo, é algo que pode ser descartado, quando os profissionais já fazem parte do quadro de colaboradores. O fato é que existe muito potencial e conhecimento sendo subutilizado. As empresas têm muito a ganhar ao ampliarem esse sistema para outros departamentos, em especial em relação ao potencial de inovação, à visão estratégica de negócio e à gestão de pessoas.
Além disso, é uma forma de incentivar a criatividade dentro das organizações, uma vez que incentiva os diversos tipos de profissionais a observarem oportunidades de melhoria e, ao mesmo tempo, prever e testar novas soluções. O simples fato de tirar os talentos de suas zonas de conforto, colocando-os em situações e obstáculos diferentes daqueles que estão acostumados, já os auxilia a desenvolver ainda mais algumas habilidades comportamentais importantes para se tornarem excelentes líderes. Entre elas podemos citar: boa comunicação, relações interpessoais, negociação e até performance e desenvoltura em público, já que muitas vezes esse tipo de profissional precisa apresentar projetos dentro das áreas de imersão e, em alguns casos, para o corpo executivo da empresa, no Brasil ou não.
A revolução digital está transformando as organizações e as empresas precisam rever a forma como fazem a gestão de pessoas. Atrair, treinar e reter está se tornando cada dia mais difícil e indispensável. As empresas têm que inovar nesse sentido. Usar uma metodologia testada e comprovadamente eficaz talvez seja uma das melhores saídas para superar esse desafio.
Felippe Virardi é formado em administração de empresas, executivo com mais de 10 anos de experiência na área de marketing e vendas e headhnter na Trend Recruitment, boutique de recrutamento e seleção para marketing e vendas.