Há políticos que preferem caminhar pela coerência, mesmo quando isso lhes custa capital eleitoral. Não é o caso de Chico Rodrigues. O senador por Roraima, que já orbitou diferentes governos conforme a conveniência do momento, hoje demonstra um alinhamento quase automático ao governo Lula, alinhamento que não decorre de convicção ideológica, mas de puro cálculo político.
A última movimentação do senador, ao defender que Jair Bolsonaro cumpra eventual pena em prisão domiciliar, ilustra perfeitamente essa postura. Trata-se de uma manobra para evitar qualquer desgaste com o eleitorado de direita em Roraima, ao mesmo tempo em que tenta manter portas abertas com o governo federal, do qual agora depende para verbas, composições e sobrevivência política.
Chico Rodrigues sabe que sua base eleitoral ainda é majoritariamente bolsonarista. Defender punição dura ao ex-presidente significaria atritar-se com esse público. Por outro lado, adotar uma posição incondicionalmente alinhada à defesa de Bolsonaro o isolaria em Brasília, onde a conjuntura mudou e o governo Lula detém a caneta que define obras, emendas e acordos. Assim, o senador escapa pela tangente e tenta vender uma solução “intermediária”, na esperança de não desagradar ninguém, ainda que, no processo, não agrade verdadeiramente a parte alguma.
Esse tipo de oportunismo político é antigo, mas ganha contornos ainda mais evidentes em momentos de polarização. Em vez de assumir uma posição clara, Rodrigues tenta equilibrar interesses contraditórios, guiado por conveniências momentâneas. A estratégia pode funcionar no curto prazo, mas revela aquilo que mais desgasta a política brasileira: a incapacidade de muitos representantes de assumir compromissos firmes com princípios, preferindo ajeitar-se conforme o vento.
Roraima e o país merecem mais do que isso. A política exige clareza, responsabilidade e coragem, três qualidades que, na prática, Chico Rodrigues parece disposto a sacrificar sempre que a oportunidade de acomodação surge no horizonte.
