A participação da classe política de Roraima na COP 30 revela um descompasso preocupante entre a relevância global do debate climático e a postura dos representantes do estado. Embora a Amazônia esteja no centro das discussões ambientais do planeta, parlamentares federais e estaduais, prefeitos, senadores e até o governador parecem ignorar a dimensão estratégica que o evento representa para o futuro político, econômico e ambiental da região.
Ausência notável, impacto profundo
Roraima é um estado diretamente afetado pelas mudanças climáticas: queimadas recorrentes, secas prolongadas, crise hídrica, impactos nas terras indígenas, pressões migratórias e efeitos sobre agricultura, energia e infraestrutura. Ainda assim, observa-se uma presença tímida (quando não inexistente), da classe política roraimense nas mesas de debate, painéis técnicos e rodadas de negociações multilaterais da COP 30.
É um contraste gritante: enquanto lideranças de diversos países e estados amazônicos buscam captar recursos, apresentar projetos sustentáveis e construir parcerias globais, Roraima não tem se posicionado como protagonista, como deveria.
O que os representantes de Roraima deveriam estar fazendo?
Se houvesse engajamento compatível com a importância do evento, seria esperado que:
Deputados federais: Apresentassem propostas para captação de investimentos climáticos e infraestrutura sustentada; dialogassem com organismos internacionais sobre projetos de transição energética, regularização fundiária, proteção de áreas sensíveis e fortalecimento de comunidades tradicionais.
Deputados estaduais: Levassem demandas regionais, sobretudo relacionadas a queimadas, reservas ambientais, agricultura familiar e mudanças no regime hídrico. Trabalhassem para alinhar a legislação estadual às metas climáticas globais, construindo pontes com especialistas e entidades ambientais presentes na COP.
Senadores: Articulassem recursos para Roraima dentro de fundos internacionais de clima, biodiversidade e energias limpas e participassem de encontros estratégicos com representantes de países que possuem interesse direto na Amazônia.
Prefeitos: Apresentassem projetos municipais que poderiam se beneficiar de financiamento climático, como saneamento, mobilidade sustentável, energia solar, manejo de resíduos e prevenção de desastres ambientais. Formassem redes de cooperação com municípios de outros estados e países amazônicos.
Governador: Deveria estar na linha de frente, defendendo a imagem do estado, buscando investimentos e expondo projetos estruturantes capazes de transformar a matriz econômica de Roraima com base na bioeconomia e na inovação sustentável. Sua ausência enfraquece politicamente o estado em um momento crucial.
Ignorar a COP é ignorar o futuro
Quando os principais representantes políticos do estado não ocupam seu espaço num evento do porte da COP 30, enviam ao país e ao mundo a mensagem errada: a de que Roraima não compreende a centralidade da pauta ambiental nem seu potencial econômico. A ausência política não é apenas simbólica; ela compromete oportunidades de financiamento, visibilidade e parcerias que poderiam transformar a realidade de milhares de roraimenses.
Em um dos momentos mais decisivos para o debate climático mundial — e com a Amazônia na linha de frente — Roraima não pode se dar ao luxo de permanecer como mero espectador. A classe política precisa assumir protagonismo, compreender a responsabilidade histórica que carrega e colocar o estado onde ele deveria estar: no centro das discussões globais sobre o clima, o futuro da floresta e o desenvolvimento sustentável.








