Na última segunda-feira (22), uma equipe técnica da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Roraima e lideranças indígenas se reuniram no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal de Roraima (UFRR) para a celebração do Termo de Execução Descentralizada (TED). No valor de R$ 300 mil a iniciativa visa a elaboração do Dossiê de Registro do ritual Areruya do povo indígena Ingarikó, bem cultural em processo de registro como Patrimônio Cultural do Brasil no Iphan.
O registro de bens culturais imateriais, previsto no Decreto nº 3.551/2000, passa por várias etapas: pedido formal; análise preliminar; instrução técnica; análise técnica e jurídica; e decisão final do Conselho Consultivo; além de reavaliação a cada dez anos. O TED firmado com a UFRR marca a fase de instrução técnica, em que dados, pesquisas e registros sobre a manifestação cultural são reunidos, formando assim um Dossiê de Registro para subsidiar as próximas etapas do processo.
De acordo com a superintendente do Iphan em Roraima, Larissa Rodrigues, a equipe será composta por docentes e discentes da UFRR eo por pesquisadores Ingarikó. “Todo o trabalho será bilíngue (Ingarikó/Português). Então, contar com o expertise da UFRR será essencial para avançarmos no reconhecimento desta demanda do povo Ingarikó e fortalecimento das políticas institucionais junto às populações indígenas”, disse.
O pedido de registro do Areruya foi apresentado pelo povo Ingarikó ao Iphan em 2012, durante a 13ª Assembleia Geral do Povo na comunidade Serra do Sol. Desde então, foram realizadas mobilizações e encontros, como o Seminário de Esclarecimento em Manalai, em 2018, que contou com tradução bilíngue e ampla participação comunitária, reforçando o protagonismo indígena no processo.
O que é o TED?
O Termo de Execução Descentralizada (TED) é um instrumento administrativo do Governo Federal que permite a execução de ações em parceria com instituições públicas. Neste caso, o documento foi assinado em julho de 2025 e terá vigência de 12 meses, entre julho de 2025 e julho de 2026, com possibilidade de prorrogação. A parceria permitirá:
- a contratação de fundação de apoio para gestão administrativa e financeira;
- a realização de pesquisa documental e revisão bibliográfica sobre o ritual;
- a execução de expedições de campo em comunidades Ingarikó, para coleta de depoimentos, observação das práticas e registro em áudio, foto e vídeo;
- a produção de registros audiovisuais bilíngues (português e língua Ingarikó), de caráter documental;
- a redação de textos historiográficos, etnográficos, etnobotânicos e linguísticos, em português e na língua Ingarikó;
- a organização, edição e publicação do Dossiê de Registro, que será entregue em formato físico e digital.
O ritual Areruya
O Areruya é a principal expressão cultural e espiritual do povo Ingarikó, realizado em ocas-igreja chamadas soosi. O ritual envolve cantos, danças, rezas e o consumo coletivo do caxiri, bebida feita a partir de raízes como mandioca, cará ou milho, fortalecendo a vida comunitária, a relação com a natureza e a transmissão de saberes às novas gerações. Para os Ingarikó, o Areruya é o coração da vida coletiva, articulando dimensões espirituais, sociais, políticas e ambientais.
Além de seu caráter religioso, o Areruya é também um marco de identidade cultural e de resistência. Ele garante a continuidade de tradições ancestrais, reforça laços comunitários e orienta práticas sociais, educativas e ambientais. O reconhecimento do Areruya como Patrimônio Cultural do Brasil contribuirá para sua valorização e salvaguarda, assegurando que os saberes e significados transmitidos pelos mais velhos sejam preservados e fortalecidos junto às novas gerações.