Uma história que começou no trabalho, teve um novo capítulo na sexta-feira (19), durante a segunda edição temática do casamento coletivo “Enfim, Casados! – Sem Fronteiras”. O venezuelano Abrahan Josue, 33, e a brasileira Yorrana Lima, 29, se aproximaram enquanto trabalhavam juntos em um mercado. Agora, pais de um bebê de seis meses, viram no projeto da Defensoria a chance de oficializar a união.
“A gente sempre buscou, tentou meios para poder casar, só que é muito caro. E aí a gente viu a oportunidade que a Defensoria deu para a gente poder casar e aproveitamos. Estamos há quase 3 anos juntos. Temos um filho e eu tô muito feliz de estar tendo essa oportunidade de finalmente realizar um sonho que é o casamento”, disse Yorrana.
Para Abrahan, o sentimento que resume é a gratidão.
“Estou muito feliz, de verdade. Estou muito grato com a Defensoria Pública. Já faz muito tempo que a gente tenta casar. Mas como minha esposa falou, isso é muito difícil, por ter que traduzir a minha certidão de nascimento, um pouco custoso. A gente viu a oportunidade graças a um amigo, nos inscrevemos e deu tudo certo, graças a Deus. E estamos muito gratos”, completou Abrahan.
O auditório da Faculdade Cathedral ficou pequeno para tanta emoção. Ao todo, 123 casais participaram da edição. A celebração oficializou uniões formadas entre brasileiros e estrangeiros, além de casais compostos apenas por migrantes que escolheram Roraima para recomeçar suas vidas.
É o caso de Oditzis Vasquez, 41, e Leonel Gonzalez, 42, que se conheceram ainda na infância, quando moravam no mesmo bairro na Venezuela. A amizade construída virou namoro e, há 22 anos, transformou-se em família, com dois filhos já crescidos. Para Oditzis, o casamento coletivo foi a chance de realizar um sonho antigo.
“A gente decidiu [participar do casamento] entre os dois, temos 22 anos juntos, a condição da Venezuela está muito difícil, mas obrigado a Deus porque o Brasil abriu as portas, né? E a gente está muito feliz, porque Deus abriu a porta e deu essa oportunidade para a gente. Algo que a gente estava buscando há muito tempo”, contou.
Outro casal que celebrou o “sim” é formado pelo guianense Bevon Aubrey Dornellas, 51, e a brasileira Michele Caetano da Silva, 47, juntos há 26 anos e pais de quatro filhos. Eles descobriram a oportunidade do casamento coletivo na igreja que frequentam.
“A gente estava tentando há muito tempo se casar, mas não estava dando certo. Porque sou estrangeiro e precisava ir até Georgetown para tirar os documentos de que não sou casado lá. Aí vim para cá e foi aprovado”, disse Bevon. Já Michele resumiu a emoção: “Estou feliz. Muito feliz. Porque tantos anos esperando, a gente tentando resolver para casar, né? Conseguimos através do casamento de estrangeiros”, disse.
A defensora pública Elceni Diogo, coordenadora do projeto “Enfim, Casados!”, destacou a importância da edição especial. “Para a Defensoria, essa edição Sem Fronteiras é uma edição muito especial, porque a gente consegue aumentar o alcance do ‘Enfim, Casados!’ levando para migrantes e refugiados. E nesta edição, especialmente, a gente conseguiu incluir brasileiros, cubanos, haitianos, guianenses e venezuelanos. Então é uma edição realmente Sem Fronteiras”, disse.
O defensor público-geral Oleno Matos ressaltou o significado da ação para o estado e para os casais. “E hoje a gente está vivendo mais um grande momento para a Defensoria Pública, o Estado de Roraima e para a população em geral, mais um casamento de migrantes, o casamento sem fronteiras […]. Esse projeto que a gente desenvolve, que é o casamento coletivo, abraçando essas pessoas faz com que a gente dê a eles a verdadeira cidadania”, afirmou.
O corregedor-geral de Justiça do TJRR, desembargador Eric Linhares, também enfatizou a união do sistema de justiça. “O sistema de justiça funciona com entidades interligadas, por exemplo, o Judiciário, a Defensoria, o Ministério Público, e esse sistema tem que ser voltado para atender as pessoas. […] Aqui nós estamos vendo o reconhecimento de uniões familiares. Muitas já existiam, outras estão começando agora. Isso é importante para a proteção deles.”
Já o coordenador do curso de Direito da Cathedral, Luiz Fernandes, falou sobre o impacto acadêmico da iniciativa. “Para a Faculdade Cathedral é uma honra poder participar desse casamento coletivo. Essa parceria que nos foi proposta pela Defensoria Pública do Estado é muito importante porque os acadêmicos estão vivendo na prática o direito de família, acompanhando esses migrantes que estão aqui hoje”, ressaltou.
A cerimônia teve apoio da Vara de Justiça Itinerante e da Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), Operação Acolhida, Serviço Pastoral do Migrante da Diocese de Roraima, Cáritas Diocesana e os cartórios Loureiro (1º Ofício) e Nathalia Lago (2º Ofício), bem como da Faculdade Cathedral.
Próxima edição
Estão abertas as inscrições da edição “Direito de Amar”, voltada ao sistema prisional, até o dia 26 de setembro, com 20 vagas. Os interessados devem procurar a sede da Defensoria Pública de Roraima no endereço: Av. Sebastião Diniz, nº 1165 – Centro. Além disso, em caso de dúvidas, os assistidos podem buscar atendimento pelo WhatsApp no telefone: (95) 98419-7688. A lista de documentos necessários para noivos e testemunhas está disponível no edital publicado no site defensoria.rr.def.br.