Representantes de seis povos indígenas participaram, entre os dias 8 e 11 de setembro, de um ciclo de capacitações na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A iniciativa foi promovida pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) em parceria com o Centro de Pesquisa Climática Woodwell, com o objetivo de fortalecer a autonomia de brigadistas e comunicadores indígenas.
No total, 18 participantes dos povos Macuxi, Wapichana, Waiwai e Taurepang, de Roraima, além dos Terena e Kadiwéu, do Mato Grosso do Sul, estiveram presentes.
Monitoramento com base em mapas digitais
Um dos cursos oferecidos foi sobre Sistema de Informação Geográfica (SIG). A formação buscou integrar o conhecimento ancestral das brigadistas, muitas delas mulheres, com ferramentas tecnológicas que permitem a criação de mapas digitais para monitoramento de áreas afetadas por queimadas.
Para Ana Paula Leví, do povo Wapichana e coordenadora da brigada indígena comunitária de Roraima, a experiência representou uma nova forma de ver o território.
“Antes, nosso mapa era construído a partir das caminhadas. Agora, com o uso de computadores e satélites, conseguimos visualizar de forma mais detalhada as áreas queimadas e planejar melhor nossos deslocamentos”, disse.
A visão é compartilhada por Luciana Correia da Silva, do PrevFogo no Mato Grosso do Sul: “O mapa digital permite explorar os territórios com muito mais profundidade, ampliando e detalhando pontos específicos que o mapa físico não mostra”.
Segundo Manoela Machado, pesquisadora do Woodwell, a ideia foi somar saberes. “As brigadistas já têm um domínio espacial muito forte de seus territórios. Nosso papel foi apresentar ferramentas que ampliem a forma como elas contam as histórias desses lugares por meio de mapas digitais”, explicou.
Comunicação como voz dos povos
A oficina de comunicação abordou noções de jornalismo, como a estrutura de uma notícia, entrevistas e produção de conteúdo para redes sociais, além de técnicas audiovisuais. Os participantes também conheceram a plataforma Proteja, biblioteca virtual com conteúdos sobre áreas protegidas.
Isabela Tomaz da Silva, do povo Wapichana, destacou o papel dos comunicadores indígenas: “Somos os primeiros a ecoar a voz dos povos, denunciando ameaças e mostrando o que existe dentro dos nossos territórios”.
Charles Nogueira, do povo Taurepang e coordenador de comunicação do Conselho Indígena de Roraima (CIR), reforçou a importância do encontro. “Foi uma troca entre diferentes povos, com visões e sonhos distintos. Esses cursos ajudam as comunidades a conquistarem independência e a se tornarem donas de suas próprias narrativas”, afirmou.
De acordo com Sara Leal, coordenadora de comunicação do IPAM, a experiência foi de mão dupla. “Compartilhamos nossas práticas, mas também aprendemos muito com eles, que já possuem ampla experiência em comunicação comunitária”, disse.
Apoio da iniciativa Proteja
A capacitação contou ainda com o apoio do Programa Proteja Educa, que promove formações para que povos indígenas e comunidades tradicionais possam difundir seus saberes e dar visibilidade às suas realidades.