Criada no mês de conscientização sobre a valorização da vida, a campanha Setembro Amarelo busca ampliar o diálogo sobre saúde mental e romper tabus ainda presentes em torno de temas como depressão, ansiedade e suicídio. A Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR) contribui para esse movimento por meio da criação de leis, campanhas de comunicação e atendimento psicológico gratuito destinado aos seus servidores.
Não à toa, o assunto ganha destaque no debate público. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 720 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, sendo esta a terceira principal causa de morte em jovens de 15 a 29 anos. No plano regional, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) relatou, no primeiro semestre de 2025, o atendimento psicológico de 1.192 pessoas no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) em Roraima.
Diante desse cenário, a ALERR já aprovou um conjunto de leis que tratam da prevenção ao suicídio e da promoção da saúde mental. Entre elas estão a Lei nº 1.016/2016, que instituiu a Semana Estadual de Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio, e a Lei nº 1.542/2021, que incluiu a campanha Setembro Amarelo no Calendário Oficial do Estado de Roraima.
Mais recentemente, a Lei nº 2.210/2025 estabeleceu diretrizes para a Política Estadual de Saúde Mental no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. Outras normas importantes incluem a Lei nº 2.027/2024, que criou o mês “Maio Furta-Cor”, voltado à saúde mental materna, e a Lei nº 1.220/2017, que instituiu o “Janeiro Branco”, dedicado a ações educativas sobre saúde mental.
O presidente da Casa Legislativa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), frisou a necessidade da atuação parlamentar para buscar políticas públicas voltadas ao bem-estar mental.
“A Assembleia Legislativa está atenta aos temas que envolvem saúde mental. Ao longo dos anos, aprovamos leis que fortalecem a prevenção ao suicídio e a promoção do bem-estar. Além disso, por meio da comunicação institucional e pública, bem como dos serviços internos, reforçamos que esse cuidado precisa alcançar não só os nossos servidores, mas também a população roraimense como um todo”, ponderou Sampaio.
Primeiros Sinais
A dona de casa Maria Nascimento Lima enfrentou um quadro profundo de depressão após a morte do marido e encontrou no exercício físico um caminho para recuperar a saúde e o bem-estar. Ela disse que a dedicação às atividades trouxe bons resultados e foi essencial para que ela superasse as dificuldades emocionais.
“Não posso mais ficar sem fazer exercício físico, pois quando passo três dias sem ir, já sinto a depressão voltando. Melhorei muito, deixei de tomar o remédio para essa doença e de várias outras, sendo o exercício uma verdadeira farmácia para mim”, contou.
Nesse sentido, o psicólogo Wagner Costa explicou que identificar precocemente os sinais da depressão é fundamental para evitar o agravamento do quadro. Segundo ele, o isolamento social costuma ser um dos primeiros indícios, acompanhado de uma visão negativa sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o mundo. “A pessoa começa a achar que não é boa o bastante, que ninguém a ajuda e que viver não vale a pena”, complementou.
Outro ponto ressaltado por ele é a importância da rede de apoio. Costa lembrou que amigos e familiares são essenciais para perceber mudanças de comportamento e encorajar a busca por ajuda profissional. “Infelizmente, apenas 5% dos brasileiros fazem terapia, enquanto 20% usam medicação. Ainda falta uma cultura de prevenção por meio da psicoterapia”, observou.
O psicólogo também reforçou a necessidade de desconstruir o tabu em torno da terapia, em que procurar ajuda não deve ser visto como algo anormal.
“É um equívoco acreditar que procurar ajuda é sinal de fraqueza, pois buscar apoio profissional é uma atitude inteligente de quem não quer adoecer. O mundo anda desequilibrado e precisamos proteger nossa mente, sendo que buscar apoio é um ato de cuidado e de valorização da vida”, concluiu.
Assembleia investe na informação e cuidados com a saúde mental
A Casa Legislativa, por meio da Superintendência de Comunicação, também produz conteúdos específicos para ampliar o debate sobre saúde mental. Entre eles estão os podcasts “Do Abraço”, “Janeiro Branco” e “Vai Ficar Tudo Bem”, disponíveis no canal do YouTube do parlamento roraimense (@assembleiarr), que discutem de forma acessível as campanhas Setembro Amarelo e Janeiro Branco.
Outro destaque é o documentário “Setembro Amarelo“, produzido pela TV Assembleia, que aborda temas sensíveis como suicídio, uso de álcool e drogas e bullying, trazendo depoimentos e informações para conscientizar a população. Além disso, nas redes sociais da instituição, o quadro “Momento Saúde Mental” oferece dicas práticas de autocuidado.
A superintendente de Comunicação, Sonia Lucia Nunes, destacou a atuação da Casa Legislativa na promoção da saúde mental.
“Desde o início da gestão do presidente Soldado Sampaio, a Assembleia tem dado prioridade ao tema, tanto no cuidado com os servidores quanto com a população. A comunicação do Legislativo realiza campanhas e ações permanentes, a exemplo de programas fixos na Rádio Assembleia e conteúdos semanais nas redes sociais com especialistas. Isso reforça a importância do equilíbrio entre mente e corpo para a qualidade de vida”, considerou.
A preocupação também se estende ao quadro de servidores. Desde 2015, a Superintendência de Saúde e Medicina Ocupacional oferece acompanhamento psicológico gratuito, atualmente realizado por uma equipe de quatro psicólogos.
A superintendente de Saúde, Camila Costa, ressaltou a necessidade do atendimento psicológico aos servidores da Casa.
“O serviço garante um espaço seguro para escuta e orientação, ajudando na prevenção de adoecimentos, na redução do estresse e na melhora do desempenho profissional. Investir em saúde mental é valorizar o servidor e oferecer um serviço público de mais qualidade à população”, pontuou.
Serviços públicos disponíveis
Em Roraima, o Centro de Atenção Psicossocial III Edna Macellaro Marques de Souza, localizado na Av. Capitão Ene Garcez, 497, Centro, faz acolhimento noturno de pessoas com sofrimento psíquico. Além de consultas médicas e psicoterapia, o espaço promove visitas domiciliares, oficinas terapêuticas e apoio técnico às Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do interior do estado. O atendimento é espontâneo e segue protocolos da rede de saúde mental.
Já o sistema do município de Boa Vista conta com 12 UBSs que oferecem atendimento psicológico, voltado para o acolhimento em saúde mental, grupos terapêuticos, atendimento individual e visitas domiciliares. O acesso é feito pela equipe do Programa Saúde da Família na unidade básica mais próxima da residência do usuário.
A rede municipal conta também com o Caps II Dona Antônia Matos de Campos, especializado em casos graves e persistentes de transtornos mentais. A unidade oferece oficinas terapêuticas e suporte multidisciplinar para reinserção social dos pacientes.