Durante o Encontro de Bispos da Pan-Amazônia, em agosto, o Papa Leão XIV enviou uma mensagem destacando a importância de evangelizar os povos indígenas da região. Mesmo ressaltando que a missão da Igreja deve combinar evangelização com respeito às tradições locais e valorização cultural, a fala gerou incômodo. A comunicação foi transmitida por meio de um telegrama assinado pelo secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, enviado no dia 20 de agosto, em Bogotá, Colômbia, por convocação da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).
A ministra dos Povos Indígenas do governo federal, Sonia Guajajara, mostrou preocupação em suas redes sociais na última segunda-feira, 1º. Para Guajajara, os saberes dos povos indígenas não são idolatria, mas sabedoria ancestral. “Evangelizar não pode significar apagamento cultural. O futuro da humanidade depende do reconhecimento da pluralidade de saberes. Honrar a fé e as tradições dos povos indígenas é um passo essencial para construirmos um futuro justo, solidário e em paz com a Mãe Terra“, afirmou.
Guajajara lembrou que durante o papado do antecessor de Leão XIV, Francisco, houve um diálogo constante para a conciliação da fé com a da cultura dos povos indígenas. “O papa Francisco reconheceu essa riqueza espiritual e abriu espaço para que nossos saberes dialogassem de igual para igual com a ciência, a teologia e a política internacional. É fundamental que esse respeito seja continuamente reafirmado”, disse a ministra.
O advogado indígena Ivo Makuxi avaliou que a mensagem do Papa Leão XIV pode gerar tensão, já que a evangelização historicamente foi usada como instrumento de assimilação cultural e apagamento das identidades e religiões indígenas na Amazônia.
“Anunciar Jesus Cristo ainda parte de uma lógica de evangelização. Esse argumento, historicamente, foi usado como um instrumento de assimilação cultural e apagamento das identidades, as percepções e religiões indígenas no mundo, principalmente na Amazônia”, alertou o advogado.
Ivo destacou que a defesa dos direitos dos povos indígenas inclui a manutenção de suas cosmologias, espiritualidades e rituais, sem imposição de crenças externas. “Isso pode entrar em choque, inclusive, com a própria defesa dos direitos dos povos indígenas, de manter suas próprias cosmologias e espiritualidades, seus rituais, sem que precisem ser enquadrados em valores externos, crenças coloniais, e isso preocupa”, afirmou Ivo Makuxi.
O advogado indígena Ivo Makuxi (Reprodução/Arquivo pessoal)
Contexto do encontro
O Papa Leão XIV também se fez presente nas atividades do Encontro de Bispos da Pan-Amazônia por meio de um telegrama. A mensagem, assinada pelo secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, foi enviada no dia 20 de agosto, em Bogotá, na Colômbia, convocado pela Conferência Eclesial da Amazônia. Mais de 90 bispos de 76 jurisdições eclesiásticas nos 9 países amazônicos estiveram reunidos para debater os desafios pastorais e missionários da região.
Esse é o primeiro grande encontro episcopal após o Sínodo para a Amazônia de 2019, o Documento Final e a Exortação Apostólica Querida Amazonia do Papa Francisco, um movimento em prol de novos caminhos de evangelização e cuidados do meio ambiente e dos pobres que deu força para a própria criação da Ceama, aprovada pelo Pontífice argentino em 2021.