Dados inéditos da pesquisa Cultura nas Capitais revelam que Boa Vista se destaca, entre as capitais brasileiras, na frequência da população a parques e praças para programas culturais. Segundo os números, 60% dos moradores citam parques e praças como os espaços culturais mais frequentados, consideravelmente acima da média de 15% nas demais capitais do país. A Praça das Águas e o Parque Rio Branco são os mais citados na capital de Roraima
O estudo também aponta que Boa Vista está entre as capitais que mais valorizam a festa junina: 41% dos moradores dizem que os eventos juninos são os principais do calendário cultural da cidade, contra uma média de 10% entre as 27 capitais. Entre aqueles que declararam ter ido a festas populares, o acesso a festas juninas (78%) supera o acesso a blocos e desfiles de Carnaval (38%).
A paçoca de carne seca, típica das celebrações juninas locais, foi apontada como o prato que melhor representa a culinária de Boa Vista: 31% da população elegeu a iguaria, à frente de peixes e frutos do mar (24%), carnes (10%), feijão (6%) e arroz e feijão (5%).
Esses são alguns dos dados revelados nesta quinta (17/07) pela pesquisa Cultura nas Capitais, maior levantamento sobre o tema já produzido no Brasil, que analisou o comportamento dos moradores das 26 capitais e do Distrito Federal. A pesquisa da JLeiva Cultura & Esporte ouviu 19,5 mil pessoas em todas as capitais brasileiras e conta com patrocínio do Itaú e do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Rouanet, Lei Federal de incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. O projeto também tem a parceria da Fundação Itaú. Em Boa Vista, foram entrevistadas 600 pessoas, de todas as regiões do município.
Sertanejo lidera, repetindo desempenho das demais capitais
No que diz respeito às preferências musicais, o sertanejo lidera entre os gêneros mais ouvidos na capital, citado como o preferido por 31% dos moradores, repetindo, no cenário local, a liderança verificada na média das 27 capitais: 34%. Na sequência dos ritmos mais citados em Boa Vista, aparecem forró (24%) e gospel (23%), em empate técnico. Samba, pop e MPB têm menor penetração em comparação com o restante do país – a MPB, que tem média de 27% e aparece em segundo lugar entre todas as capitais, soma apenas 11% da preferência dos moradores de Boa Vista.
A força do streaming
Quando questionados sobre quais os serviços mais utilizados para ver filmes e séries, 29% dos moradores de Boa Vista citaram o streaming em primeiro lugar, próximo da TV aberta (28%) e à frente da TV por assinatura (20%). A TV ainda é o aparelho mais usado para assistir conteúdos audiovisuais, citada por 55% como dispositivo preferido, enquanto o celular aparece com 24%.
Desafios e potenciais
A capital de Roraima figura entre as cidades com menor frequência em espaços como museus, bibliotecas, teatros e cinemas, mas revela um público com potencial de crescimento, especialmente no interesse por museus e teatro.
De acordo com o levantamento, Boa Vista é a capital com menor acesso a locais históricos, museus e bibliotecas. Em 11 das 14 atividades culturais analisadas, como concertos, feiras de livro, festas populares e cinema, a cidade aparece com o maior percentual de pessoas que afirmaram nunca ter frequentado esses espaços.
Apesar desse cenário negativo, a pesquisa mostra que há um interesse latente – apenas 5% dos entrevistados disseram ter ido a museus nos 12 meses anteriores à pesquisa, mas 28% dos que não foram demonstraram alto interesse em fazê-lo. Situação semelhante ocorre no teatro: 14% afirmaram ter ido a uma apresentação, enquanto 29% dos que não foram disseram que gostariam muito de ir — o chamado público potencial.
Os dados indicam que, embora, de forma geral, o acesso à cultura ainda seja limitado, há um considerável campo de oportunidades para políticas públicas e ações que ampliem as opções de atividades culturais da população, aproveitando o interesse latente e valorizando a identidade local.
“Boa Vista têm menos moradores com ensino superior do que a média das capitais. Ao mesmo tempo, a porcentagem de pessoas das classes D e E é maior. Isso certamente está relacionado com os baixos percentuais de acesso a várias atividades”, afirma o diretor da pesquisa, João Leiva.
“Há sinais também de falta de espaços culturais. A maioria dos que visitaram museus e exposições, por exemplo, fez isso em outros estados”, observa. “Por outro lado, fica muito claro o desejo dos moradores de usufruir e fazer cultura. A extensa ocupação de praças e parques é um sinal disso, assim como a valorização da festa junina”, destaca.
Teatro: destaque para musicais
O teatro musical lidera as preferências dos espectadores em Boa Vista: 58% dos que vão ao teatro optam por esse tipo de espetáculo, índice superior à média das 27 capitais (50%). A capital de Roraima também se destaca por motivações diferentes das demais: é onde mais se vai ao teatro para relaxar (13%), paquerar (5%) e acompanhar crianças (14%). A última visita ao teatro foi paga para 52% da população, enquanto 48% foram a uma apresentação gratuita.
Metodologia
Nesta edição da pesquisa Cultura nas Capitais foram ouvidas 19.500 pessoas, moradoras de todas as capitais brasileiras – as 26 estaduais, além de Brasília – com idade a partir de 16 anos, de todos os níveis socioeconômicos, entre os dias 19 de fevereiro e 22 de maio de 2024. As pessoas foram abordadas pessoalmente em pontos de fluxo populacional. Ao todo, os pesquisadores foram distribuídos por 1.930 pontos de fluxo (entre 40 e 300 por capital), em regiões com diferentes características sociais e econômicas. Os entrevistados respondiam até 61 perguntas, além das relacionadas a características sociais e econômicas (como escolaridade, cor da pele etc.). O instituto responsável pelo estudo é o Datafolha.
Além da pergunta sobre renda, a pesquisa também adotou o Critério Brasil de Classificação Econômica, um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau de escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população em classes: A, B, C, D ou E (Fonte: ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa).
Sobre a JLeiva Cultura & Esporte
Consultoria especializada em concepção, planejamento, execução, análise e disseminação de dados e informações sobre o setor cultural no Brasil. Conduz estudos, mapeamentos e benchmarking para empresas privadas, instituições públicas e organizações sociais com atuação em cultura e esporte — como Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Vale, British Council, Vale, Nike, Museu do Amanhã e Instituto Goethe. Desde 2010, realiza pesquisas de hábitos culturais, consolidando-se como referência nessa área.
Sobre a Fundação Itaú
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