O Conselho de Ética do Senado Federal parece querer varrer para debaixo do tapete o caso do dinheiro na cueca, escandalizado pelo senador Chico Rodrigues (PSB-RR), quando flagrado pela Polícia Federal em outubro 2020 com R$ 33 mil escondidos nas partes íntimas.
Os recursos seriam destinados para as ações da pandemia de covid-19, segundo a PF. Mais de quatro anos depois, o episódio — que gerou representação no Conselho de Ética com pedido de cassação — nunca foi a analisado pelo colegiado.
Em 2020, Chico Rodrigues estava no antigo Democratas, era vice-líder do então presidente Jair Bolsonaro no Senado e empregava em seu gabinete Leonardo Rodrigues, o Léo Índio, primo dos filhos do ex-presidente. Hoje, está no PSB, partido da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No Senado, a demora encontra algumas justificativas. Primeiro por que durante a pandemia de coronavírus o Conselho de Ética não funcionou. Tanto que a representação contra o senador só foi instalada oficialmente em junho de 2023.
E segundo porque o senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi escolhido relator, mas pediu para não seguir com o trabalho, alegando impossibilidade “por motivo de foro íntimo”.
O pedido para deixar a relatoria da representação contra Chico Rodrigues foi a última movimentação que o caso teve no Conselho de Ética do Senado. De 16 de junho do ano passado para cá, nada aconteceu.
A assessoria de imprensa do presidente do Conselho de Ética, senador Jayme Campos (União-MT), afirma que o colegiado está “preparando uma reunião nos próximos meses” para “resolver” o caso Chico Rodrigues e outros que estão parados há algum tempo.
Vale enfatizar que, após a escolha do novo relator, o processo ainda correrá de forma lenta. Isso porque, segundo o regimento interno do Senado, é preciso dar tempo para a colheita de depoimentos, além de ampla defesa e espaço para recurso — caso essa seja a vontade de Chico Rodrigues.
Ele é investigado pela participação em suposto esquema de desvio de dinheiro de combate à pandemia em Roraima. Foi durante operação da PF no estado que o parlamentar escondeu dinheiro na cueca.
Na Câmara, o caso de Chico Rodrigues tem sido usado pela base governista como o que “não pode acontecer”, mas, na prática, não é o que tem sido visto. Na esfera criminal, Chico Rodrigues foi indiciado pela Polícia Federal ainda em 2021.