“Eu sei da dificuldade que enfrentamos ao entrar na faculdade, de realizar as redações e as atividades, mas sei que posso ajudar meu povo a superar isso“. A declaração é do primeiro indígena Yanomami a concluir um curso de formação na Universidade Federal de Roraima (UFRR). Para Genivaldo Krepuna Yanomami, de 39 anos, o objetivo, agora, é ser ponte para os “parentes” no Ensino Superior.
Genivaldo é da comunidade Tihinaki, na Terra Indígena (TI) Yanomami. No dia 31 de outubro, ele se formou em Licenciatura Intercultural pelo Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena.
O indígena compartilhou que a formatura representou um momento de gratidão para ele e para sua comunidade. O propósito de Genilvado é passar os conhecimentos para as crianças e jovens que estão em sua volta.
“Meu planejamento é trabalhar na comunidade, na região da maloca Papiu, onde tem muitas crianças analfabetas. Eu quero alfabetizar eles também, por isso comecei a faculdade, para ensinar eles. Na comunidade, não tem educação, não tem escola adequada. Eu penso que, a partir de agora, outros vão querer entrar e estudar na UFRR”, disse Genivaldo.
À reportagem, ele ainda destacou a emoção que sentiu na colação de grau, que aconteceu no Centro Amazônico de Fronteiras (CAF), localizado em Boa Vista, capital de Roraima. Além disso, destacou as dificuldades enfrentadas durante os anos de academia.
“Na formatura, eu fiquei muito emocionado. Pessoas que estavam me acompanhando também ficaram muito felizes e choraram. Não consegui segurar e também chorei. Eu sei da dificuldade que enfrentamos ao entrar na faculdade, de realizar as redações e as atividades, mas sei que posso ajudar meu povo a superar isso”, enfatizou.
Apesar de conseguir terminar os anos de faculdade, Genilvaldo conta que, no começo, demorou para se adaptar à vida na cidade. Ele menciona, por exemplo, que se sentia em perigo ao andar nas ruas, por conta do trânsito, chegando a esperar 10 minutos para atravessar uma rua com semáforos para pedestres. Para ir até a UFRR, pegava carona com a equipe da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai).
Com a pandemia da Covid-19, Genilvaldo precisou retornar à comunidade. Ao todo, foram mais de três anos longe da universidade, momento esse que resultou no início do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) escrito em dois idiomas.
“Dentro da minha comunidade, comecei a trabalhar com meu TCC. Esse TCC foi escrito em duas línguas, em português e Yanomami, é bilíngue. Em relação ao material do trabalho, tem história, educação e saúde da maloca Papiu”, concluiu.
Pesquisa do centro de inteligência analítica criado pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), entre 2011 e 2021, apontou que a quantidade de matrículas de alunos autodeclarados indígenas no ensino superior aumentou 374%.
A rede privada respondeu pela maioria delas (63,7%), no período. O levantamento revela ainda que a modalidade presencial prevaleceu (70,8%), entre os estudantes. Uma das bases a que o instituto recorreu para realizá-lo foi o Censo da Educação Superior, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).