A eleição presidencial da Venezuela acontece neste domingo (28). Dois candidatos aparecem com maior relevância nas pesquisas: o atual presidente Nicolás Maduro, que busca um terceiro mandato, e o opositor, Edmundo González Urrutia, seguem na frente, que aspira a acabar com 25 anos de governos chavistas.
O processo de instalação das mais de 30 mil mesas de votação foi iniciado na manhã de sexta-feira (26), com denúncias de ativistas opositores sobre atrasos. No entanto, o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, defendeu o desdobramento do Plano República.
“Alerta! Pretende-se desde já, com denúncias tendenciosas através das redes sociais, enrarecer o clima eleitoral”, questionou na rede social X o chefe militar, que nesta semana negou que as Forças Armadas vão atuar como “árbitro” da eleição.
Também na sexta-feira, a ONG de direitos humanos, Foro Penal, denunciou que 135 pessoas vinculadas à campanha do opositor González foram presas, das quais 47 permanecem detidas.
A Venezuela tem 70% dos cidadãos registrados para votar. Ao todo, há dez candidatos na disputa eleitoral. As pesquisas favorecem González, mas o chavismo desconsidera o apontamento e acusa a oposição de planejar não reconhecer os resultados e gerar violência.
A seguir, confira um guia completo sobre a eleição presidencial 2024 da Venezuela.
HORÁRIO DE VOTAÇÃO
Os locais de votação serão abertos às 6h do horário local (7h de Brasília) e fechados às 18h (19h). O horário poderá ser estendido enquanto houver eleitores na fila.
QUEM SÃO OS CANDIDATOS
Dez candidatos concorrem em um sistema de votação única, mas apenas dois têm relevância nas pesquisas.
Por um lado, Maduro, de 61 anos, sucessor do falecido líder socialista Hugo Chávez, busca um novo mandato que o levaria a 18 anos no poder. Durante o seu mandato, o político enfrentou uma crise econômica monumental, protestos da oposição que resultaram em centenas de mortes e denúncias de violações dos direitos humanos.
Do outro, González Urrutia, um diplomata de 74 anos, foi postulado de última hora pela aliança Plataforma Unitária para representar a ex-deputada liberal María Corina Machado, que está impedida de ocupar cargos públicos.
ELEITORES
Com uma população de 30 milhões, a Venezuela tem 21 milhões de pessoas registradas para votar entre as mais de 30 mil mesas de votação. Contudo, especialistas apontam que somente 17 milhões de eleitores que estão na Venezuela participarão do pleito.
Entre os venezuelanos que estão no exterior, menos de 70 mil estão registrados nos consulados para votar. Após uma crise que reduziu o PIB da Venezuela em 80%, entre 2013 e 2020, o país enfrentou uma migração em massa. Segundo a ONU, mais de 7 milhões de pessoas deixaram a Venezuela na última década.
O salário médio no setor privado é de cerca de 150 dólares por mês, enquanto o mínimo é de apenas 4 dólares mensais, com bonificações adicionais que o elevam para cerca de 130 dólares. Analistas temem que uma vitória de Maduro possa desencadear uma nova onda migratória.
AUTORIDADE ELEITORAL
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) é o órgão responsável por organizar cada eleição na Venezuela. A diretoria é composta por cinco membros, três alinhados ao chavismo e dois à oposição.
O processo eleitoral é automatizado, com resultados centralizados pelo CNE. Em 2018, a oposição classificou a reeleição de Maduro como fraudulenta e boicotou o processo.
Na época, os Estados Unidos, a União Europeia e vários países da América Latina não reconheceram Maduro como presidente.
INFLUÊNCIA DAS FORÇAS ARMADAS
Uma das grandes questões neste processo eleitoral é o papel que a Força Armada desempenhará. O grito “Chávez vive!” se tornou sua saudação oficial.
Chávez, militar que liderou um golpe de Estado fracassado em 1992, chegou ao poder por meio de eleições, ao vencer o pleito de dezembro de 1998. Durante seu governo (1999-2013), aumentou a influência política da instituição armada.
O mesmo padrão foi seguido por Maduro, que permitiu à hierarquia militar ocupar cargos estatais, inclusive na vital indústria petrolífera. O presidente dependeu em grande parte dos militares para conter grandes manifestações opositoras, em 2014 e 2017, em meio a violentos distúrbios nas ruas.
“A Força Armada Nacional Bolivariana me apoia“, reafirmou ele esta semana, enquanto González Urrutia pediu aos militares que “respeitem e façam respeitar” o resultado das eleições, enquanto as pesquisas o apontam como favorito.
DIPLOMACIA
Maduro tenta normalizar as relações internacionais da Venezuela, alvo de sanções dos Estados Unidos que incluem um embargo ao petróleo desde 2019.
O país estadunidense mantém sua posição oficial, que vincula a suspensão das sanções a eleições competitivas. No entanto, especialistas apontam que os Estados Unidos gostariam de normalizar suas relações com a Venezuela para recuperar o país como fornecedor de petróleo, tendo em vista a tensão internacional devido às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
Já na América Latina, governos de direita, como os de Jair Bolsonaro no Brasil, Iván Duque na Colômbia e Sebastián Piñera no Chile, deram lugar a administrações de esquerda com, respectivamente, Lula, Gustavo Petro e Gabriel Boric. Porém, esses três governantes têm pressionado por eleições transparentes e justas na Venezuela.