Alguns a chamam de Dubai da América Latina, outros falam em um milagre econômico sul-americano: a Guiana deve crescer até 25,4% em 2024, liderando o desenvolvimento econômico no continente. Pelo menos é o que consta do último relatório do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (Desa, na sigla em inglês).
Esse desempenho notável desperta cobiça – recentemente da vizinha Venezuela, que quer anexar a região de Essequibo, rica em petróleo e recursos naturais. O regime de Nicolás Maduro já divulgou novos mapas que mostram uma Venezuela ampliada, incluindo a área de 160 mil quilômetros quadrados que hoje perfaz dois terços do território ocupado pela Guiana.
Indústria petrolífera em rápida expansão
O crescimento econômico da Guiana se deve principalmente à sua indústria de petróleo e gás em rápida expansão. “A Guiana optou por agentes privados com ampla experiência para realizar esse tipo de projeto”, disse William Clavijo, cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em entrevista recente ao jornal chileno El Mostrador.
A trajetória do país, portanto, contrasta radicalmente com o caminho seguido pela Venezuela. A PDVSA, estatal venezuelana de petróleo, tem decaído continuamente nas últimas duas décadas. Especialistas foram substituídos por funcionários leais a Maduro, mas que não possuem a competência técnica necessária. A isso somam-se os casos de corrupção e má administração.
No duelo entre a economia planejada de um e a economia de mercado do outro, a Guiana claramente tem se saído vencedora ao seguir o caminho oposto, com empresas de petróleo apostando em especialistas experientes.
Há quase dez anos, a americana ExxonMobil fez uma das maiores descobertas de petróleo da história recente na Guiana. Apenas no chamado Bloco Stabroek estima-se que haja até 11 bilhões de barris de petróleo. Desde então, a economia do país só tem conhecido uma direção: para cima.
“Por um lado, é claro que a Guiana quer continuar explorando suas reservas de petróleo sem o risco de um conflito internacional. Por outro lado, o governo venezuelano usou uma disputa centenária como manobra política em uma tentativa fracassada de superar a falta de apoio popular”, analisa Carolina Jiménez Sandoval, presidente da ONG de direitos humanos Washington Office on Latin America (Wola). “De toda forma, ambos os países deveriam usar mecanismos de resolução de conflitos para resolver suas diferenças de forma pacífica.”
Ator emergente no cenário internacional
O bom desempenho econômico da Guiana também tem impacto no cenário internacional. Recentemente houve turbulências nos mercados de petróleo devido a conflitos geopolíticos, como a invasão russa da Ucrânia ou a guerra entre Hamas e Israel. Um novo ator comercial, que ainda por cima se alinha ao Ocidente, poderia, no médio prazo, acalmar os mercados e garantir mais segurança no fornecimento.
Produção de petróleo da Guiana deve superar a Venezuela
Com pouco mais de 800 mil habitantes, a Guiana já tem uma produção per capita maior do que a Arábia Saudita. Segundo a ExxonMobil, a produção de petróleo do pequeno país na fronteira com Roraima e Pará saltou de 380 mil barris/dia em 2023 para 640 mil barris/dia em janeiro de 2024. Até 2027, a meta é chegar a um total de 1,2 milhão de barris/dia.
A Venezuela, país mais rico em petróleo do mundo, produz entre 700 mil e 800 mil barris/dia e deve ser ultrapassada pela Guiana em breve. Segundo estimativas de especialistas, a Venezuela tem reservas comprovadas de quase 300 bilhões de barris. Além dos erros de gestão em Caracas, as sanções dos EUA também contribuem para o mau desempenho da indústria petrolífera venezuelana.
Em termos de exportações, a Guiana já ultrapassou a Venezuela. Segundo relatos da mídia local, a Guiana exportou por dia 621 mil barris de petróleo em fevereiro, superando pela primeira vez as vendas do vizinho, que foram de 604 mil barris/dia.
No início do ano, o presidente guianense, Irfaan Ali, deu um passo adiante ao conclamar a indústria do país a explorar outros recursos. “É hora de também produzirmos nosso gás”, disse em um grande evento de petróleo e gás em Georgetown. “Há uma janela de oportunidade até o final da década para comercializar também o gás.”