Foto: Divulgação / Governo da Guiana

Réu em cinco processos ligados ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, o empresário Rodrigo Martins de Mello, conhecido como Rodrigo Cataratas, mudou-se para a Guiana e abriu uma empresa de mineração de ouro no país.

Alvo da Justiça Federal em Roraima, Cataratas cruzou a fronteira e instalou um garimpo na Guiana. Dono de uma frota de helicópteros e um patrimônio declarado de R$ 33,5 milhões, ele é coordenador do movimento Garimpo é Legal, que tenta expandir a atividade na Amazônia.

Cataratas anunciou sua mudança para a Guiana em outubro do ano passado. Em novembro, ele e outros três empresários reuniram-se com o primeiro-ministro do país, Mark Phillips. Em uma publicação no Facebook, o gabinete de Phillips afirmou que o grupo estava lá “para apoiar ativamente o desenvolvimento geral da nação”.

O empresário é pré-candidato a vereador pelo União Brasil em Boa Vista. Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele disputou uma vaga de deputado federal pelo PL em 2022, teve 9.095 votos e não foi eleito — neste ano ele deixou o partido e vem ampliando sua atividade nas redes sociais nos últimos meses.

Cataratas responde a cinco denúncias do MPF (Ministério Público Federal). Além de ser réu por mineração ilegal e crimes associados, como organização criminosa e lavagem de dinheiro, ele é suspeito de ataques às sedes do Ibama e da PF em setembro de 2021. O grupo investigado ateou fogo em uma viatura do Ibama e tentou incendiar outro carro do órgão que estava na PF, mas não conseguiu.

Os crimes apontados pelo MPF teriam sido cometidos entre o final de 2018 e 2022. Esse período, que coincidiu com o governo Bolsonaro, foi marcado pelo aumento do garimpo na área yanomami: o desmatamento causado pela atividade na terra indígena quadruplicou entre outubro de 2018 e dezembro de 2022.

O UOL não conseguiu confirmar se o garimpo aberto na Guiana é legalizado. A legalidade é afirmada em vídeos por Cataratas e por Jailson Mesquita, coordenador político do movimento Garimpo é Legal, que visitou o local em março. O governo da Guiana, contudo, não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o negócio.

Cataratas anunciou um “recomeço” na Guiana pouco mais de duas semanas após virar réu pela 5ª vez em sete meses. De fevereiro a setembro de 2023, a Justiça Federal de Roraima acatou denúncias contra o empresário por mineração ilegal e crimes associados. No início de outubro, ele publicou a foto de um retrovisor de carro, na estrada, seguido por pelo menos três caminhões, com a mensagem “rompendo fronteiras”.

Procurado pelo UOL, Cataratas não quis se manifestar. Na última quinta-feira (4), porém, ele publicou um vídeo no Instagram e no Facebook se dizendo alvo de “perseguição” pela reportagem. “Ele [o repórter] querendo saber da minha atividade na Guiana inglesa. Vocês têm ideia do sistema que é contra um cidadão? Vocês mensuram essa perseguição?”, disse o empresário.

Cataratas vem divulgando vídeos do garimpo em operação na Guiana. Em um deles, publicado em 21 de março, ele mostra trabalhadores no local e afirma que são indígenas da região. Em outro vídeo, do dia 28 de março, o empresário aparece ao lado de uma retroescavadeira e diz que está reformando uma estrada de acesso ao local.

O investimento na atividade seria de US$ 10 milhões (R$ 50,2 milhões). O líder garimpeiro Jailson Mesquita, próximo de Cataratas, visitou o local em 18 de março e afirmou em vídeo que ele foi aberto por “mineradores brasileiros, que fizeram um gigantesco investimento” e empregavam cerca de 200 trabalhadores. O UOL não localizou Mesquita para comentar o assunto.

O garimpo fica a cerca de 300 km de Roraima, diz Mesquita em vídeo. O leste do estado faz fronteira com Guiana na região de Essequibo, que é reivindicada pela Venezuela e tem reservas conhecidas de ouro pelo menos desde 1867. O UOL não conseguiu, porém, confirmar se o garimpo fica dentro ou fora desse território.

Mesquita diz que o garimpo é feito “em parceria” com os indígenas. Um vídeo publicado por Cataratas mostra um grupo de trabalhadores retirando rochas de uma montanha próxima e as quebrando com marretas. No “moinho dos indígenas”, segundo Cataratas, eles separam o ouro das pedras com uma máquina.

Grupos de garimpeiros no Facebook têm impulsionado uma entrevista do presidente da Guiana, Irfaan Ali. Em conversa com um jornalista da rede britânica BBC, ele defendeu que o país intensifique a exploração do território, especialmente do petróleo.

Essa região é coberta, em sua maioria, por florestas, e abriga principalmente vilas. A capital Georgetown e os maiores centros urbanos país, de porte médio ou pequeno, estão quase todos concentrados na faixa litorânea ou no leste do país.

O garimpo tem impactado indígenas dos dois lados da fronteira. Na terra indígena Raposa Serra do Sol, no leste de Roraima e ao lado de Essequibo, indígenas têm enfrentado ameaças de invasão, problemas ambientais e a oposição de lideranças internas que são favoráveis à atividade.

 

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