A Diocese de Roraima juntamente com diversos movimentos sociais, divulgou nesta quinta-feira (28), uma nota pública de desagravo pelo modo como o Governo do Estado tem conduzido as soluções para a crise ambiental que afeta o estado. Com as queimadas, a qualidade do ar figurou entre as piores do mundo, esta semana.
“Mesmo com esse quadro ambiental, marcado por forte estiagem e seca, o governo do Estado de Roraima emitiu 55 licenças ambientais para queimadas. Conforme dados da entidade Greenpeace, a maioria dessas licenças foram emitidas no dia 9 de fevereiro para pastagem de gado. Tais medidas tiveram como consequência o aumento dos focos de incêndio em diversos municípios do Estado, por meio de fortes ventos e seca. Não houve qualquer medida mais eficaz de prevenção e controle, tendo gerado uma quantidade alarmante de fumaça, afetando diretamente a saúde dos povos ribeirinhos, indígenas, moradores da cidade e do campo, que vivem no interior de Roraima. Essas comunidades, já marginalizadas, enfrentam agora uma situação ainda mais precária, tendo seu modo de vida, cultura e saúde postos em risco iminente pela falta de água. Sem água não é possível manter as plantações, os animais, o que tornou a escassez de alimentos produzidos pelas famílias uma realidade no nosso Estado”, diz um trecho do documento.
Liberação de licenças
O Greenpeace Brasil teve acesso aos dados de licenças para queimadas em Roraima, publicadas no Diário Oficial, e constatou que, no dia 9 de fevereiro, foram publicadas 55 licenças para uso de fogo, sendo a maioria em área de pastagem, das quais apenas duas foram revogadas, segundo dados referentes até o dia 22 de fevereiro. Dos 10 municípios com o maior número de queimadas no mês de fevereiro, todos estão em Roraima.
Para Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, o governo estadual de Roraima é um dos responsáveis por esse aumento dos focos de calor na região: “Ao contrário de outras regiões do bioma, que tem um intenso período de chuvas entre dezembro e maio, Roraima está no período de seca, justamente por ser o estado localizado mais ao norte do país. Esse período, que já apresenta uma grande diminuição das chuvas, segue ainda mais intensificado esse ano pelo fenômeno El Niño, que ainda deixa seus efeitos na região. Por isso, é inaceitável que o governo estadual tenha concedido licenças para queimadas nessa situação, elevando os focos de calor na região, colocando em risco o meio ambiente e a saúde da população”.
Na ocasião, o governo afirmou que havia suspendido as licenças emitidas pela Femarh.
Orientações polêmicas
Após a qualidade do ar em Roraima ser considerada “péssima”, ficando entre as piores do mundo nesta semana, o governo de Roraima gerou polêmica ao sugerir que a população ligue centrais de ar-condicionados e ficasse em casa. O assunto foi alvo de críticas por parte da população nas redes sociais e gerou a manifestação pública do deputado Duda Ramos (MDB).
“É angustiante constatar que o governo não apenas fracassa em resolver essa questão, mas também concede licenças para queimadas”, reclamou o parlamentar.
Desagravo
A nota emitida pela Diocese e pelos movimentos sociais roraimenses ainda destaca as reiteradas manifestações pró-garimpo por parte do Governo do Estado, e que agora, segundo a carta, imputa a culpa pelo fogo aos povos indígenas.
“Diante desse quadro, o governo do Estado de Roraima tem tido como resposta criminalizar os povos indígenas pelas queimadas, efetuando prisões de tuxauas, alegando que os mesmos são os responsáveis por esse quadro. Repudiamos tal ato de injustiça do Estado. Além disso, a contaminação dos nossos rios com mercúrio – sendo os mais contaminados Uraricoera, Couto Magalhaes, Mucajai, os quais despejam no rio Branco, princial rio de Roraima -, resultado da mineração ilegal, é uma problemática que exige ação imediata. O garimpo ilegal, que assola nosso Estado, foi fortemente apoiado pelo atual governo, emitindo dois projetos de lei de apoio a essa atividade criminosa. As consequências desta contaminação são desastrosas, afetando diretamente a saúde dos povos que dependem desses rios para sua subsistência, além de causar danos irreparáveis ao ecossistema aquático”, conclui.
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