Foto: Alan Chaves

Roraima concentrou em fevereiro 45% de todos os focos de calor do país neste ano. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e mostram que o cenário de incêndios é o maior já registrado no estado em 25 anos. Foram 2,6 mil pontos de fogo no período, e casas, animais e plantações já sofrem com as consequências.

O problema é causado principalmente pela estiagem, com baixo volume de chuva, e agravado pelo fenômeno El Niño. Mas a situação é mais complexa, segundo Rômulo Batista, da Frente de Desmatamento do Greenpeace Brasil.

“As queimadas e os incêndios florestais são um problema bastante complexo. E como todo problema complexo, é difícil a gente apontar uma causa única pra isso. É óbvio que a gente vem de um ano com o El Niño muito forte e que também foi o ano mais quente já registrado da história. Tudo isso contribui para que a vegetação esteja mais seca, as áreas de pastagem também estejam mais secas. Tudo isso é aliado também, por exemplo, à diminuição da fiscalização e controle, já que os agentes do Ibama não estão indo a campo fazer fiscalização e controle. Continuam o trabalho de combate a focos de calor e incêndio”, conta Rômulo.

“E a gente tem que lembrar: o fogo na Amazônia, em sua grande maioria, se não quase todos, tem origem antrópica. Ou seja: precisa de alguém pra riscar o fósforo. Esse fogo é utilizado pra limpar as pastagens, mas também para áreas que foram desmatadas, queimar essa vegetação que foi derrubada, e também queimar a floresta pra facilitar futuro desmatamento”, denuncia o integrante do Greenpeace.

Crise

A maioria dos municípios de Roraima está em situação de emergência, reconhecida pelo governo federal. Enquanto este estado sofre com o fogo, o Acre sente os efeitos da força da água, com as cheias provocadas pelas chuvas. 19 dos 22 municípios acreanos também estão em emergência e o nível do Rio Acre na capital Rio Branco não para de subir. Segundo a Defesa Civil, o nível já chegou à marca de 17,84 metros acima da cota de transbordo.

“A gente já pode falar que não estamos num momento de mudança climática, mas, sim, de crise climática. A gente vem de um histórico de 13 meses aí, praticamente, os meses mais quentes que a gente já teve registrado. A gente vê, não só no Brasil, mas em todos os países também, o efeito dessa crise climática, que é justamente esse descompasso que a gente está vendo no clima. Lugares em que era para chover e não está chovendo. Lugares em que era pra estar sol e está chovendo demais. Então, tudo isso são facetas dessa mesma crise climática”, avalia Rômulo. “E quem mais sofre com essa crise climática são justamente aqueles que menos têm responsabilidade em causar isso. São as populações periféricas, é a população negra, a população indígena, ribeirinha. Que historicamente menos emitiram e até protegeram os territórios evitando que emissões acontecessem e, infelizmente, são eles os que estão pagando o preço mais caro nesse momento”, lamenta Rômulo Batista.

O integrante da Frente de Desmatamento do Greenpeace ressalta que as queimadas causam muitos problemas e para a sociedade como um todo. Por isso, não à toa, aumentam os problemas respiratórios em locais com focos de incêndios, conforme já apontou a própria Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A solução é a busca pelo desmatamento zero, defende Batista.

“O Acre está em enchente, Roraima com muito fogo… A gente teve enchentes aí históricas levando à perda de vidas nos estados do Nordeste, Sudeste e Sul já este ano. Então, a gente tem que pensar que o melhor caminho é, sim, o desmatamento zero e deixar de utilizar essas técnicas tão arcaicas como é o uso de fogo em grandes propriedades”, explica.

“O Brasil tem que buscar o desmatamento zero o quanto antes. Existe um plano governamental para 2030, mas a gente precisa dele o quanto antes. O segundo é repensar e legislar sobre essa utilização do fogo. O fogo é importante para as populações tradicionais, para os povos indígenas, para a agricultura familiar que usa, historicamente, isso e tem um controle sobre o fogo. A gente não pode continuar usando queimadas em fazendas de 10 mil, 15 mil, 20 mil hectares, porque isso emite gases do efeito estufa e também contribuem pra esse problema. Na outra ponta – não na parte de evitar as emissões –, a gente tem que começar a trabalhar na mitigação e na adaptação, principalmente, das cidades e das periferias, onde estão a população que mais sofre os efeitos dessa crise climática”, argumenta.

 

 

 

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