O vice-presidente da Associação Hutukara Yanomami, Dário Kopenawa, disse que a nova proposta do governo Lula (PT) de criar uma Casa de Governo ao custo de R$ 1,2 bilhão não vai resolver a morte, a desnutrição, casos de malária e demais problemas da população Yanomami. Anunciado na semana passada, o projeto do governo pretende reunir em Roraima os órgãos federais envolvidos na proteção, segurança e ações estruturantes para atuação permanente dos indígenas.
“Esse recurso não vai ser destinado especificamente para o povo Yanomami. Na nossa visão, isso significa que não vai resolver [os problemas] da população Yanomami, não vai resolver morte, não vai resolver desnutrição, não vai resolver casos de malária, não vai resolver estruturas dos postos de saúde”, disse Kopenawa. A fala do vice-presidente foi enviada em áudio à coluna pela assessoria de imprensa da associação nesta segunda, 15, em resposta aos questionamentos sobre a situação dos indígenas e ações do governo federal.
A população de cerca de 30 mil indígenas vive em crise humanitária e sanitária, sob ameaças a sua segurança, enfrentam dificuldade de acesso a alimentos e atendimento médico em razão da ação ilegal de garimpeiros que atuam na região há décadas. No ano passado, o presidente Lula esteve em Roraima e classificou a situação como “desumana”, desde então iniciou uma força-tarefa na região para desintrusão e atendimento médico e humanitário.
O líder indígena entende que o governo quer ajudar a população Yanomami, mas que não articulou junto às associações e não consultou as lideranças que representam os indígenas sobre as medidas que anunciou.
“O que a gente está vendo aqui, Casa do Governo, que o governo quer investir quase R$ 1,2 bilhão, isso, na visão do povo Yanomami e visão da Hutukara não vai ser investido especialmente na terra Yanomami. A gente está avaliando que isso vai ser investido na Casa do Governo e estado de Roraima e não vai ser destinado especificamente para os Yanomami”, afirmou.
“Não está muito claro ainda para a população Yanomami. A gente está com um pouco de dificuldade [para entender] como o governo Lula vai administrar, como os representantes do governo cuidarão deste grande [recurso] orçamentário e vai ser destinado especificamente para Casa do Governo federal. Isso não vai resolver”, completou.
No final do ano, a Justiça de Roraima determinou que o governo retomasse as ações contra o garimpo em terras Yanomami. A decisão atendia um pedido do Ministério Público Federal que criticava o retorno de garimpeiros em áreas do território que já haviam passado por um processo de desintrusão.