Maranhão Yanomami chegou a ser socorrido e internado em estado grave, mas não resistiu (Divulgação/PMRR)

Entidades ligadas aos direitos indígenas cobram providências urgentes de autoridades estaduais e federais após a morte do indígena Maranhão Yanomami, de 27 anos, em um atropelamento ocorrido na última quinta-feira, 24, próximo à Feira do Produtor, em Boa Vista (RR). A feira fica ao lado do viaduto Peri Lago, conhecido como abrigo para indígenas em situação de rua na capital de Roraima.

Maranhão Yanomami morreu nesta segunda-feira, 27, após ter sido internado no Hospital Geral de Roraima (HGR) por conta do atropelamento ocorrido na Avenida Glaycon de Paiva, no bairro Mecejana, zona Oeste de Boa Vista. De acordo com as associações, o atropelamento expõe a vulnerabilidade pela qual passam os indígenas que vivem em Roraima e os constantes crimes de ódio e discriminação que sofrem.

De acordo com a Polícia Militar de Roraima (PM-RR), que atendeu à ocorrência, ele havia vindo da comunidade Ajarani, que fica no município de Iracema (RR), a 126 km de Boa Vista, para saber notícias da esposa, que havia sido transferida para a capital para tratamento de malária, mas ele não sabia onde ela estava internada.

A vítima foi arremessada para o canteiro central da Avenida Glaycon de Paiva. O motorista fugiu sem prestar socorro ao indígena, que chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado ao HGR, onde ficou internado em estado gravíssimo.

A morte de Maranhão ocorreu pouco mais de um ano após a indígena Ana Yanomami Xexana ter sido morta a tiros no dia 11 de novembro do ano passado, próximo ao local do atropelamento de Maranhão. Além dela, outra vítima foi atingida.

Ana Yanomami e um homem estavam na Avenida Venezuela, próximo à Feira do Produtor. Segundo a Polícia Militar, duas pessoas em uma bicicleta efetuaram vários disparos em direção às vítimas e fugiram. No local, foram encontradas cápsulas de calibre 9 milímetros. Ninguém foi preso desde então.

Cobranças
Pouco habituados ao ambiente urbano, há relatos frequentes de indígenas quase atropelados. Foram pelo ao menos dez acidentes no trecho que liga essa área a BR-174 (Manaus-Boa Vista), de acordo com a Hutukara Associação Yanomami (HIY). A associação cobra que autoridades locais investiguem as circunstâncias do atropelamento de Maranhão e que haja um melhor acolhimento aos indígenas que precisam vir à Boa Vista.

“O Estado brasileiro não pode negar a existência dos povos indígenas, e as cidades também devem acolher a diversidade dos povos. Por isso, é necessário medidas adequadas para atender os indígenas que chegam à cidade. E os parentes Yanomami devem ser respeitados”, afirma Júnior Herukari, presidente da Associação.

A cobrança também é feita pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), que destaca a situação de vulnerabilidade dos indígenas que passam pela cidade. “Em vez da discriminação e hostilização contra os indígenas pela sua presença, deveriam se preocupar em cuidar de escutar suas demandas e apoiá-los para que viajem em segurança à cidade e de volta a sua comunidade”, afirma Edinho Batista, presidente do CIR.

Segundo o antropólogo e coordenador do Núcleo Insikiran, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Jonildo Viana, a permanência dos indígenas nas comunidades é dificultada pela falta de regularidade no atendimento do posto de saúde e do funcionamento da base de proteção etnoambiental no local. Longe da reserva, onde a crise sanitária, com alta de casos de desnutrição e malária, fez o governo federal decretar emergência em saúde no território, em janeiro, indígenas que migram para Boa Vista sofrem com a falta de apoio.

“Uma parte deles vira morador de rua e se torna alvo de violência e preconceito. Sem falar português, eles têm dificuldade para conseguir trabalho e até para acessar auxílios do governo. Também é frequente o abuso de bebidas alcoólicas”, acrescenta Viana.

Outro agravante apontado pelo antropólogo é a presença de garimpeiros na reserva, mesmo após a ação de desintrusão realizada pelo governo federal em fevereiro deste ano. O retorno de garimpeiros foi denunciado por lideranças indígenas. “A invasão pela mineração irregular ameaça a saúde dos indígenas, uma vez que o mercúrio usado no processo contamina os rios e o barulho das máquinas afugenta os animais, usados para caça”.

Reclamações
A presença dos Yanomami no entorno da feira é intensa – eles são alvo de queixas de comerciantes e feirantes. Segundo os vizinhos, pequenos acampamentos de Yanomami surgem e são desmontados todos os meses – aumentam perto das datas de saque de benefícios sociais “Eles ingerem bebida alcoólica, brigam e andam despidos”, reclama Frederico Barbosa, que vende verdura, frango, entre outros itens.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) afirmou que tem prestado todo apoio aos indígenas em Roraima e que aguarda o esclarecimento das circunstâncias das mortes de Maranhão e Ana Yanomami “a fim determinar o juízo competente do caso, assim como providências criminais e cíveis cabíveis”.

A Polícia Civil de Roraima (PC-RR) afirmou que as investigações sobre os casos estão sob sigilo e que irá se pronunciar quando os inquéritos forem concluídos. O Governo de Roraima afirmou que tem prestado acolhimento aos indígenas em apoio ao governo federal, que é o responsável por ações em saúde e assistência social nas comunidades indígenas.

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