Flutuante e barcos encalhados no Rio Branco. Foto: arquivo/ Roraima 1

Os barcos que abastecem o comércio local já não chegam mais a Benjamin Constant, município na região do Alto Solimões, no Amazonas. O rio Javari, afluente do Solimões, baixou tanto que as embarcações de carga não têm condições de navegabilidade. A solução é recorrer a embarcação de menor porte, chamada “canoão”, para levar alguns produtos, encarecendo o valor no mercado.

Benjamin Constant é um dos 13 municípios amazonenses que entraram em situação de emergência por causa da estiagem extrema deste ano na bacia amazônica. Outros 16 estão em estado de alerta. E além das dificuldades de abastecimento e deslocamento, a seca também vem aumentando o número de queimadas na região.

Dados do INPE mostram que, de 1º a 19 de setembro, o Amazonas registrou 5.186 focos de incêndio. O número é 73% maior que a média da série histórica para o período (3.003). Embora as autoridades reconheçam tendência de queda dos números para as próximas semanas, em virtude das chuvas que têm chegado aos poucos aos municípios, o alerta permanece.

Já em Porto Velho, capital de Rondônia, o rio Madeira – que abriga as megahidrelétricas de Santo Antônio e Jirau – atingiu a cota de 1,44 metro na 5ª feira (21). A medição é a menor já registrada desde que o nível do rio começou a ser monitorado. A última vez que o Madeira tinha chegado a um nível tão baixo foi em 2022, com o mesmo 1,44 metro. Antes disso, a menor cota era de 1,63 metro, catalogada em 2005.

Segundo especialistas, a estiagem, comum nesta época do ano na região, está sendo agravada pelo aquecimento das águas dos oceanos Atlântico Tropical Norte, logo acima da linha do equador, e do Pacífico Equatorial, este último devido ao atual El Niño. Essa situação “dupla” inibe a formação de nuvens, diminuindo o volume de chuvas na região amazônica.

As secas na Amazônia aumentaram de frequência e de intensidade nos últimos anos – o que pode ser creditado à crise climática. O pesquisador Renato Senna, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), destaca que a região não está preparada para enfrentar esses períodos secos. “É um processo muito caótico. As pessoas estão mais resilientes para as condições de cheias na região, mas não para as secas”, explica ele.

E a seca severa na Amazônia pode afetar também o abastecimento de produtos em todo o país. A navegação do rio Amazonas já foi afetada, mas sua capacidade de transporte pode cair 40% em duas semanas e até 50% até outubro. Como escoa a produção da Zona Franca de Manaus, isso pode influenciar até as vendas do comércio no período da Black Friday, que ocorre em novembro.

O pesquisador Renato Senna, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), afirma que o agravamento da estiagem na Amazônia se deve a dois fenômenos climáticos simultâneos: o aquecimento do Pacífico, conhecido como El Niño, e o aquecimento do Atlântico Tropical Norte. Os fenômenos, que começaram a ficar mais intensos há três meses, também ocorreram em 2009 e em 2010, ano da seca histórica da bacia amazônica.

“Já é possível observar as consequências destes dois fenômenos sobre a região como um todo. Grandes áreas já apresentam chuvas muito abaixo do esperado para esta época do ano. Mesmo sendo considerado um período de poucas chuvas, estas ainda deveriam estar ocorrendo com maior frequência e intensidade. Por exemplo, na região da bacia do rio Negro e do rio Branco [em Roraima] e grande parte do norte do Pará”, afirmou Renato Senna, que responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no Inpa,

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