Um dos principais grupos de oposição ao governo Lula (PT), a “bancada da bala” está em pé de guerra no Congresso em torno de quem coordenará o grupo nesta legislatura. O deputado Alberto Fraga (PL-DF), criador do grupo em 2005, pretendia voltar ao posto este ano, mas um parlamentar ligado à Polícia Rodoviária Federal (PRF) apresentou requerimento antes argumentando que a frente só tratava dos problemas da Polícia Militar – é o deputado Antonio Nicoletti (União-RR).
O impasse desuniu um dos principais grupos de oposição ao governo Lula. A frente, tradicionalmente, defende o maior armamento da população e medidas corporativas das forças de segurança pública. Atuou fortemente, por exemplo, para criar uma lei orgânica das policias e bombeiros militares e para impedir a perda de benefícios na reforma do sistema de previdência dos militares, ambos na legislatura passada. Este ano, a bancada está empenhada em tentar barrar a revogação de normas governamentais que ampliaram o acesso da população a armas.
A disputa pode acabar caindo no colo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que terá que arbitrar a disputa entre os dois grupos que desejam comandar a frente. O posto é cobiçado por falar em nome dos policiais durante a negociação de projetos e fazer a interlocução com as forças de segurança fora do Congresso, dando prestígio ao parlamentar.
O presidente da “bancada da bala” até janeiro era o deputado Capitão Augusto (PL-SP). Ele protocolou requerimento para recriar a frente no dia 7 de fevereiro, mas sem apresentar as assinaturas necessárias. Argumentou que o estatuto do grupo garante sua manutenção de uma legislatura para outra se mais de 10% de seus integrantes foram reeleitos. Caso a recriação fosse indeferida, ele pediu que Lira estabeleça prazo para obter o apoio que falta.
Foi uma tentativa de antecipar outro movimento, do deputado Nicoletti, que coletava assinaturas desde novembro para substituir Augusto. Em reuniões reservadas, segundo relatos, Nicoletti reclamava que o então presidente só dava atenção as demandas da própria corporação, a Polícia Militar, e deixava de lado as demais (a Polícia Civil e a Polícia Federal, por exemplo). A reportagem tentou contato com ele há uma semana por celular e por meio de assessores, mas ele não retornou até a publicação.
Nicoletti ignorou as tentativas de acordo e protocolou o pedido de criação da frente no dia 16, mas o documento foi rejeitado porque só tinha o apoio de 196 dos 198 parlamentares necessários. Ele obteve, no mesmo dia, a adesão de mais dois senadores, mas quatro deputados apresentaram pedidos para deixar a bancada: delegada Adriana Accorsi (PT-GO), delegado da Cunha (PP-SP), delegado Ramagem (PL-RJ) e delegado Caveira (PL-PA).
Fraga disse que a disputa será resolvida no voto, com eleição para saber quem será o coordenador, se não houver acordo. “Houve uma intenção canalha desse deputado, Nicoletti, em querer criar uma frente que já existia, que é desde 2005”, diz Fraga. “Ele entrou para tumultuar, não quis conversa. Agora, são dois PRF na Câmara, mas são 18 PMs e 15 delegados, que estão conosco. Quem vai precisar de quem depois nas votações?”, questiona o deputado.
Parte da bancada tenta um acordo para evitar que Lira acabe precisando decidir a briga ou que o grupo atue desunido nesta legislatura. “É natural essas disputas dentro do Congresso, mas acredito que todos nós temos o mesmo interesse, então vamos encontrar entendimento mais na frente. Pode ser ficar um ano cada um”, disse o deputado capitão Alberto Neto (PL-AM).
Se a tentativa de acordo vingar, Fraga ficaria no comando da bancada este ano e cederia a presidência para outro parlamentar em 2024. O revezamento acabaria com a prática de um único deputado comandar o grupo por quatro anos, como ocorreu nas legislaturas passadas.