Vice-presidente da comissão externa do Senado Federal que acompanha a crise humanitária envolvendo o povo indígena Yanomami, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) criticou a ida do senador Chico Rodrigues (PSB-RR), presidente da comissão, à terra indígena desacompanhado dos demais parlamentares e sem autorização das autoridades competentes.
Em entrevista à Globo News nesta quarta-feira (22), a senadora classificou a ida do senador como uma atitude de “má-fé” e ilegítima. “Para mim, é uma visita que não tem qualquer tipo de legitimidade. Porque nós temos todo um regimento dentro do Senado Federal que precisa ser seguido e o senador não seguiu”, afirmou Eliziane. “Essa comissão ela é integrada por vários senadores, qualquer decisão ou ação tomada pelo presidente tem que ser deliberada internamente. O que não ocorreu”, completou.
A senadora afirmou acreditar que Chico Rodrigues possa estar cometendo obstrução da justiça uma vez que conduz os trabalhos da comissão de maneira “nebulosa”. “Eu acho que nós poderemos chegar a essa conclusão tão logo ele responda para nós as razões e a motivação dele”, destacou.
Eliziane afirmou que conversará com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para expor a forma “obscura e sem transparência” que a comissão está sendo conduzida. Além de Chico e Eliziane, compõem a comissão os demais senadores de Roraima, Dr. Hiran (PP) e Mecias de Jesus (Republicanos), e o senador Humberto Costa (PT-PE).
Chico Rodrigues esteve no território indígena na manhã da segunda-feira (20). Eliziane afirmou que só soube da ida do senador após receber uma mensagem na noite do domingo (19) e que seria “humanamente impossível” para ela se deslocar do Maranhão, seu estado, para a capital Boa Vista (RR). O senador sobrevoou a região em uma aeronave das Forças Armadas.
No Twitter, o senador publicou um vídeo sobre a sua visita à região afirmando que visitou a área para “para analisar de perto a evolução da situação”. “Estou acabando de sair aqui de Surucucu e vim como presidente da Comissão dos Yanomamis acompanhar e verificar in loco a situação do transporte de alimentos, das cestas básicas, verificar inclusive a retirada de garimpeiros em alguns pontos que não pousamos por questão de segurança. Mas observamos que realmente já está sendo bem liberada a área”, afirmou na publicação.
Críticas
A visita do senador foi alvo de críticas de associações indígenas. Em uma publicação nas redes sociais, a Urihi Associação Yanomami classificou como “ultrajante” a presença do parlamentar no território. “Repudiamos a participação dos parlamentares favoráveis a mineração ilegal, na comissão que deverá acompanhar a situação dentro do Território Indígena Yanomami”, destacou a associação.
Nessa terça-feira (21), o Ministério Público Federal (MPF) cobrou explicações do senador sobre a visita. Segundo o MPF, o pedido “visa identificar os objetivos e atividades da referida Comissão Temporária Externa na Terra Indígena Yanomami, na perspectiva da defesa dos povos que habitam a TI Yanomami”.
O MPF também oficiou a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami) para questionar sobre a visita do senador.