A Urihi Associação Yanomami e a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) emitiram notas de repúdio aos senadores escolhidos para integrar a Comissão Temporária sobre a Situação dos Yanomami. O grupo deverá acompanhar a crise humanitária em Roraima e supervisionar a remoção de garimpeiros que ocupam ilegalmente a terra indígena.
Os principais alvos das críticas são Chico Rodrigues (PSB-RR), Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e Dr. Hiran (PP-RR). Eles já se posicionaram a favor da mineração ilegal na área e demonstraram suposto descaso com os indígenas afetados pela crise, que envolve confrontos violentos e frequentes com garimpeiros.
“A participação destes parlamentares na comissão que acompanhará a crise humanitária na TIY [Terra Indígena Yanomami] deixa explícito que o objetivo é o amparo aos invasores e não o povo Yanomami, seus mortos, suas crianças desnutridas, jovens estupradas, terras invadidas e águas contaminadas”, disse Junior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami.
Já a Apib classificou a escolha de Chico Rodrigues para a presidência da comissão como “incoerente, imoral e tendenciosa”.
“Quando o Senado valida alguém que se declara favorável à legalização do garimpo em terras indígenas para a comissão que vai identificar os responsáveis pelo incentivo a essa atividade dentro da TI Yanomami, cuja tragédia humanitária está exposta e evidente ao mundo todo, é um escárnio e falta de respeito para com os povos indígenas”, disse Kleber Karipuna, coordenador executivo da articulação.
Rodrigues disse que indígenas têm cultura “totalmente primitiva”
Um dia após ser anunciado para presidir a comissão na terra yanomami, Chico Rodrigues afirmou que a cultura desses indígenas é “totalmente primitiva”.
“É a última etnia do planeta no século 21 que ainda é primitiva, totalmente primitiva, que precisa ser mantida usos, costumes, língua, etc. A comissão tem como foco fazer esse acompanhamento, mas estamos vendo a questão humana dos dois lados, o lado dos índios fragilizados, mas também o lado de 20 mil brasileiros que estão sendo retirados porque estavam ilegais naquela área”, disse o senador em entrevista à Globo News
Rodrigues já se posicionou favoravelmente ao garimpo em diversas ocasiões. Em dezembro de 2021, ele classificou os garimpeiros como “trabalhadores esquecidos pela União”. Na ocasião, o senador afirmou ter pedido para sua equipe legislativa desenvolver um projeto de lei que proponha a regularização do garimpo em terras indígenas.
Um avião que circulou em 2018 em garimpo ilegal na terra yanomami era do senador, mostrou texto da Repórter Brasil de março de 2021. Procurado, ele afirmou que “à época dos fatos narrados, já havia transferido a posse [do avião]”, porém não enviou documentos que comprovassem a informação. Disse ainda, por meio de sua assessoria de imprensa, que no período em que de fato tinha a posse “não realizou qualquer voo em região de garimpo ilegal”.
O senador foi pego com R$ 33 mil escondidos na cueca em uma operação da Polícia Federal em outubro de 2020. Na época, os agentes apuravam desvios de recursos públicos destinados ao combate da pandemia da covid-19.
Mecias de Jesus
A CNN Brasil revelou essa semana um ofício relativo a uma denúncia de 2019 que indica que a Voare, até então a única autorizada a fazer tráfego aéreo na região yanomami, recebeu uma cobrança de propina do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Ocorre que, recentemente, o coordenador do Distrito Indígena Yanomami foi nomeado pelo senador Mecias de Jesus, o que nos trouxe grande indignação, pois, de início, o senador pediu propina para nos manter no contrato. Caso contrário, seriamos substituídos”, diz ofício obtido pela CNN.
O senador nega a acusação.
Em 2022, Mecias foi condenado pelo “Escândalo dos Gafanhotos”, esquema de funcionários fantasma. Ou seja, pessoas eram inseridas na folha de pagamento, mas não trabalhavam, o que permitia o desvio de dinheiro.
Dr. Hiran
Apontado para ser o relator da nova comissão, o senador também defende o garimpo na região. “Importante destacar que, enquanto deputado, Hiran Gonçalves, votou a favor do Projeto de Lei (PL) 490/2007 que inviabiliza demarcações de terras indígenas e o Projeto de Lei (PL) 191/2020, que autoriza a mineração em terras indígenas”, pontuou a Urihi Associação Yanomami.