A Funai mudou de nome. Criada em 1967 como Fundação Nacional do Índio, ela agora passa a se chamar Fundação Nacional dos Povos Indígenas.
A mudança atende a um pedido da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e estava como uma das sugestões do relatório do grupo de transição. A ideia é que o uso da palavra índio é um equívoco que carrega preconceitos e omite a diversidade dos povos.
Hoje, a nova presidente da Funai, Joenia Wapichana, tomou posse. Ela é a primeira indígena a comandar o órgão.
Por que a mudança de nome?
O termo índio não é usado para definir uma pessoa de etnia indígena. A palavra, por sinal, é vista como uma forma genérica e até preconceituosa de chamar os indígenas. “A palavra ‘indígena’ diz muito mais a nosso respeito do que a palavra ‘índio’. Indígena quer dizer originário, aquele que está ali antes dos outros”, explica Daniel Munduruku, doutor em Educação pela USP e pós-doutor em linguística pela Universidade de São Carlos, em entrevista à BBC.
Ele cita que a expressão ganhou força no século 16 e hoje é apelido que “traz sempre um aspecto negativo e reforça algo ruim”.
“A palavra índio perdeu o seu sentido. É uma palavra que só desqualifica, remonta a preconceitos. É uma palavra genérica. Esse generalismo esconde toda a diversidade, riqueza, humanidade dos povos indígenas.”
Daniel Munduruku, doutor em Educação.
Vetado por Bolsonaro, mas já em uso
O termo indígena já era usado na maioria das redações de jornalismo e em textos oficiais. O manual de redação do Senado, por exemplo, define que, para designar o indivíduo, deve se usar o termo indígena, não índio. “Indígena significa ‘originário, aquele que está ali antes dos outros’ e valoriza a diversidade de cada povo”, diz.
O mesmo vale para se referir ao dia 19 de abril, em que se adota o termo Dia dos Povos Indígenas, em vez de Dia do Índio. Em abril, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou projeto que pretendia mudar do nome “Dia do Índio” para “Dia dos Povos Indígenas”.