Foto: Jaime C. Patias/Cimi

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) foi agraciado com o prêmio “Alceu Amoroso Lima” de direitos humanos, no Brasil, 2022. A cerimônia foi transmitida por meio do canal do YouTube da Universidade Candido Mendes (Ucam) no último dia 15. A premiação visa dar destaque a iniciativas de pessoas, instituições ou organizações que lutam pelos direitos humanos, justiça e paz no Brasil. O jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, assassinados no Vale do Javari, ganharam destaque no evento.

Registro histórico dos primórdios do Cimi. Lideranças indígenas e Dom Pedro Casaldáliga a caminho  da 10ª Assembleia de Chefes Indígenas, na aldeia do povo Tapirapé (MT)

De acordo com a reitora da Ucam, Andreya Mendes Navarro, a trajetória do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) não poderia ficar à margem dos processos de construção da história e da memória da sociedade brasileira. “Não podia deixar de homenagear o Cimi, que é, brilhantemente, presente na história do nosso País e continuará levando a nossa luta adiante”, afirmou Andreya.

O membro do Grupo de Trabalho (GT) Alceu Amoroso Lima, Padre Oscar Beozzo, responsável pela escolha, lembrou da luta enfrentada pelos povos originários e pelo Cimi, ao longo dos últimos anos, no Brasil. “O Cimi viveu, de modo muito especial, nesses últimos quatro anos, uma batalha difícil, porque a vida dos povos indígenas e territórios foram sistematicamente violados e destruídos por aqueles que deveriam protegê-los”, denunciou.

Homenagem
No evento, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, mortos no Vale do Javari, oeste da Amazônia Legal, foram homenageados. Em sua fala, Oscar Beozzo declarou: “Não podemos deixar de reconhecer e trazer para toda a sociedade o que foi essa entrega do Bruno Pereira e do Dom Phillips. Eu homenageio, também, tanto a Beatriz, esposa de Bruno, como Alessandra, esposa de Dom Phillips, que está aqui conosco, dizendo que a dor de vocês é nossa também. A luta de vocês também é nossa”, afirmou o clérigo.

Resistência
Criado em plena ditadura militar no Brasil, o Cimi atravessou fases para chegar até aqui. Entidade representativa e braço atuante das demandas dos povos originários, para Paulo Suess, assessor teológico do Cimi, a história fala por si. “O Cimi nasceu como organismo anexo à CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 1972”, recordou.

Dom Roque Paloschi. Foto: Augusta Eulalia Ferreira/Cimi

Padre Oscar relembrou os tempos de chumbo, onde o contexto político era completamente desfavorável ao surgimento de entidades como o Cimi. “Era o oitavo ano da ditadura militar, quando o general Emílio Garrastazu Médici era presidente do Brasil. Foi o secretário-geral da CNBB, à época, que convocou um pequeno grupo de 25 pessoas para discutir o projeto de lei que tramitava na Câmara Federal e dispunha sobre o Estatuto do Índio”, recordou Oscar Beozzo.

Cimi
O Cimi é um organismo vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que, em sua atuação missionária, conferiu um novo sentido ao trabalho da igreja católica junto aos povos indígenas.

Criado em 1972, no auge da ditadura militar, quando o Estado brasileiro adotava como centrais os grandes projetos de infraestrutura e assumia, abertamente, a integração dos povos indígenas à sociedade majoritária, como perspectiva única, o Cimi procurou favorecer a articulação entre aldeias e povos, promovendo as grandes assembleias indígenas, onde se desenharam os primeiros contornos da luta pela garantia do direito à diversidade cultural.

Em sua prática junto aos povos indígenas, o Cimi assume como objetivo geral: testemunhar e anunciar, profeticamente, a Boa-Nova do Reino, a serviço dos projetos de vida dos povos indígenas, denunciando as estruturas de dominação, violência e injustiça, praticando o diálogo intercultural, inter-religioso e ecumênico, apoiando as alianças desses povos entre si, e com os setores populares, para a construção de um mundo para todos, igualitário, democrático, pluricultural e em harmonia com a natureza, a caminho do Reino definitivo.

E, para esta nova sociedade, forjada na própria luta, o Cimi acredita que os povos indígenas são fontes de inspiração para a revisão dos sentidos, da história, das orientações e das práticas sociais, políticas e econômicas construídas até hoje.

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