Foto: Prensa/Miraflores

Com a guerra na Ucrânia, a demanda por petróleo aumentou e muitos países se voltaram para a Venezuela. Líderes internacionais retomaram o diálogo com Nicolás Maduro e agora pressionam por mudanças no regime venezuelano que permitam ao país voltar a ser classificado como democracia.

Na semana passada, o presidente da França, Emmanuel Macron, patrocinou em Paris uma reunião entre a oposição e o chavismo, apoiado pela Argentina e a Colômbia, para retomar as negociações entre as duas partes, interrompidas desde 2021.

Dias antes, na COP-27, no Egito, o francês conversou com Maduro, oferecendo apoio e diálogo e um convite a um “trabalho bilateral útil”, depois de anos reconhecendo Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.

Para o analista político e professor da Universidade Simon Bolívar Erik del Bufalo, a pressão internacional sobre Caracas será no sentido de tornar o regime “mais palatável”. “Acredito que vá haver mais formalidade no sentido de marcar eleições, mais transparência (nos atos internos), para que os países que querem o petróleo (venezuelano) ou fazer outros negócios com a Venezuela o possam fazer sem o estigma de estarem negociando com uma ditadura”, explica.

A França é um dos mais de 50 países que não reconhecem a reeleição de Maduro em 2018, chamada pela oposição de “fraudulenta”, e apoiaram o opositor Juan Guaidó como presidente encarregado do país. No entanto, o respaldo a Guaidó vem enfraquecendo, sobretudo na Europa, afetada por uma crise energética em pleno inverno, como consequência da guerra na Ucrânia.

Tanto que a presidência francesa, preocupada com a crise energética, pediu em junho a “diversificação das fontes de abastecimento de petróleo”, mirando na produção do Irã e da Venezuela. “O petróleo venezuelano também deve poder voltar ao mercado”, indicou. Maduro respondeu dizendo que a Venezuela estava pronta para receber as petrolíferas francesas “que quiserem vir e produzir petróleo e gás para o mercado europeu, para o mercado mundial”

Reação econômica

Outro país que não reconheceu a reeleição de Maduro foi os EUA. Mas a política de Washington também mudou nos últimos meses.

Com a alta inflação dos combustíveis causada pelo embargo aos produtos russos – após a invasão russa à Ucrânia – os EUA retomaram as conversas com integrantes do governo Maduro para sondar a retomada de negociações. Dali em diante, o governo de Joe Biden anunciou o alívio de sanções à Venezuela – impostas como resposta a ações consideradas antidemocráticas – e ensaiou uma aproximação com a troca de prisioneiros.

Outra reaproximação crucial para Maduro foi com a Colômbia. Neste mês, Petro foi à Venezuela e, depois de seis anos, os países voltaram a presenciar um encontro presidencial.

Depois do encontro, entrou para a agenda internacional o pedido de colocar Caracas novamente na Comunidade Andina de Nações (CAN) e no Sistema Interamericano de Direitos Humanos e a rota aérea Caracas-Bogotá foi reativada. Semanas depois, os dois líderes pediram que se inicie um processo conjunto de recuperação da Amazônia.

Outro rumo

Segundo Del Bufalo, as mudanças internacionais já impulsionaram mudanças nacionais na Venezuela, “econômicas e de mentalidade”. “Maduro está numa etapa mais liberal da economia. Percebemos uma mudança de dinâmica econômica por conta da situação do petróleo. A palavra socialismo não é mais usada pelo governo, foi esquecida e aqui vemos uma mudança radical.”

Além disso, o analista destaca que a retomada do diálogo entre chavismo e oposição se dará dentro de um contexto diferente dos anos anteriores. “Digo que vivemos um pós-chavismo, um sistema mafioso, primitivo e de concentração de poder que está consolidado absolutamente. Por outro lado, a oposição não tem mais prestígio e apoio popular, acredito que vá desaparecer. Há a possibilidade de surgirem novas forças políticas”, afirma.

Abusos chavistas

Sinal de que, mesmo com a pressão internacional, uma mudança de governo continua sendo remota, é a realidade da perseguição pelo regime venezuelano: em 2022 são 79 emissoras de rádio fechadas e 386 casos documentados de perseguição e criminalização contra jornalistas, opositores políticos e ativistas sociais.

“Os padrões de perseguição continuam se repetindo. Perseguição de caráter sistemático a dissidentes, mas também a jornalistas, líderes sociais, defensores dos direitos humanos, líderes estudantis, ou seja, qualquer grupo que, de forma organizada, exija seu direito ou se converta em uma voz dissidente e representa uma ameaça. Em momentos de maiores organizações cidadãs, como eleições e manifestações, esses processos de perseguição são ampliados”, afirma a diretora do Cepaz (Centro de Justiça e Paz), Beatríz Borges.

Segundo a organização, apenas em agosto, foram registrados pela Cepaz 22 casos de perseguição a jornalistas e meios de comunicação, 6 contra cidadãos, 21 contra pessoas ligadas à política e 3 contra ativistas sociais.

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