Foto: Agência Brasil

Com raros representantes no Congresso ao longo da história, os povos indígenas do Brasil deram um salto neste ano e elegeram cinco candidatos, sendo quatro mulheres, para a Câmara dos Deputados. O número inédito, no entanto, não significa unidade: enquanto três das eleitas pertencem a partidos de esquerda, uma é do PL, legenda do presidente Jair Bolsonaro.

Duas das novas deputadas, Sônia Guajajara (PSOL-SP) e Célia Xakriabá (PSOL-MG), integram uma articulação nacional para formar a “bancada do cocar”, voltada à defesa dos povos originários. Outra eleita, Juliana Cardoso (PT-SP), é aliada do movimento, mas construiu a carreira política na periferia de São Paulo. Já Silvia Waiãpi (PL-AP) é militar, bolsonarista e contrária às pautas progressistas.

Questionadas pela reportagem, as novas indígenas na Câmara não creem que seja possível dialogar com o lado oposto. Enquanto as representantes do PSOL e do PT veem no atual governo uma ameaça à existência dos povos tradicionais e do meio ambiente, a eleita pelo PL endossa os discursos de Bolsonaro sobre o tema.

“É impossível ter diálogo com quem defende o Bolsonaro. O fato de uma deputada ter origem indígena não quer dizer que defenda as pautas coletivas dos povos”, afirma Sônia Guajajara, que foi candidata à vice-presidência da República em 2018. Segundo ela, o movimento está unido pela demarcação de territórios e contra a abertura destas áreas para atividades como o garimpo.

Silvia Waiãpi, por sua vez, faz coro ao discurso de Bolsonaro e das Forças Armadas de que entidades como a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que se opõem ao governo, defendem interesses estrangeiros e atrapalham o desenvolvimento econômico do país.

“Eu não defendo nenhuma iniciativa que contribua para a instabilidade política da minha nação, ou que coloque em risco a soberania nacional. As minhas experiências me conduzem para um tipo de pensamento, que defende a soberania do país”, afirma.

Quantos indígenas disputaram as eleições? O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) registrou neste ano, para todos os cargos em disputa, um total de 186 candidatos que se identificaram indígenas. Foi um recorde desde a adoção da declaração por cor/raça, em 2014, quando 85 nomes haviam entrado nessa categoria.

O deputado federal Paulo Guedes (PT-MG), que conquistou um novo mandato, também declarou origem indígena. A lista incluiu ainda nomes como o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS), recém-eleito senador.

A Apib, que congrega associações indígenas regionais de todo o país, apoiou 30 candidaturas para os cargos de deputado federal ou estadual. Uma delas, Joenia Wapichana (Rede-RR), se tornou a primeira mulher indígena eleita deputada federal em 2018, mas não conseguiu repetir o feito esse ano.

Das quatro eleitas em 2022, três estarão em minoria na Câmara: os partidos alinhados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terão, somados, 135 deputados, menos de um terço da Casa. Mesmo que o petista vença Bolsonaro em 30 de outubro, elas estarão em número desfavorável nas votações.

Silvia, por sua vez, está no PL, que terá a maior bancada nas duas casas do Congresso. A amapaense foi eleita pela “liga da lealdade”, uma frente de 22 candidatos da sigla, que usaram o mesmo número de urna em estados diferentes. O grupo, articulado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), teve como pré-requisito a fidelidade a Bolsonaro.

 

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