Os focos de incêndios na floresta amazônica brasileira registraram um forte aumento em setembro, já tornando-o o pior mês em mais de uma década, mostraram dados do governo nesta segunda-feira, após um salto no desmatamento durante o ano eleitoral.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 36.850 alertas de incêndio na região até agora este mês, um aumento de 120% em relação ao mês completo do ano passado e o pior já registrado em qualquer mês desde setembro de 2010, quando o Inpe teve 43.933 alertas.
Com isso, o total de alertas de incêndio até agora este ano subiu para 82.872, superando os 75.090 registrados em todo o ano de 2021. Os focos de incêndios na Amazônia tendem a atingir o pico em agosto e setembro, período de queimadas na região, quando as chuvas diminuem e permitem que pecuaristas e fazendeiros muitas vezes coloquem fogo em áreas desmatadas.
Este mês, porém, já foi ultrapassada a média de 32.110 focos de incêndio para setembro, segundo dados de satélite do Inpe desde 1998. A destruição da floresta tropical do Brasil usualmente aumenta em anos de eleições, quando a fiscalização geralmente diminui e os desmatadores aceleram planos antes de uma possível mudança na política de conservação. “As queimadas não são um fenômeno natural para a floresta amazônica.
Essas queimadas estão ligadas a atividades humanas, muitas vezes atividades ilegais, e também ao nível de degradação da floresta, que faz com que ela seja muito mais suscetível ao fogo”, disse Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.
Na eleição do próximo domingo os eleitores votarão se dão um segundo mandato ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que reverteu proteções ambientais, vendo o desmatamento na Amazônia aumentar para o patamar mais alto em 15 anos.
“O Brasil já foi referência mundial de monitoramento das florestas nacionais, infelizmente os órgãos responsáveis vêm sofrendo um desmonte pelo governo”, disse no Twitter o ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão, candidato a deputado federal pela Rede. Bolsonaro está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prometeu reforçar a fiscalização na Amazônia para conter o desmatamento, se eleito.
O Palácio do Planalto encaminhou um pedido de comentário ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, que não respondeu imediatamente. Em agosto, os focos de incêndios já tinham sido os mais altos para o mês desde 2010. Os dados também mostraram que 1.661 quilômetros quadrados foram desmatados na Amazônia no mês passado, um aumento de 81% em relação ao mesmo período de 2021.
Em discurso na Assembleia-Geral da ONU na semana passada, Bolsonaro elogiou os esforços de energia renovável do Brasil e disse que a maior parte da Amazônia permanece intocada, criticando a mídia por suas reportagens sobre o desmatamento.