A Hutukara Associação Yanomami (HAY) denunciou nesta terça-feira, 13, que no período de 20 dias, em comunidades da terra indígena, em Roraima, seis crianças morreram por conta do quadro de saúde terem sido agravados pela falta de postos de Saúde que foram fechados por causa do avanço do garimpo ilegal na Terra Indígena (TI).
No documento ao qual à reportagem teve acesso, a HAY aponta que, apenas nas últimas três semanas, seis crianças tiveram a morte confirmada. Duas morreram no hospital de Boa Vista, uma faleceu a caminho do hospital, a quarta foi resgatada e morreu na UBSI de Surucucu, e outra morreu na sua comunidade.
O relato está sendo descrito em um ofício encaminhado à Fundação Nacional do Índio (Funai), Superintendência da Polícia Federal em Roraima (PF/RR), Ministério Público Federal, Distrito Sanitário Especial Yanomami e Yekwana (Dsei-YY) e ao Conselho Distrital de Saúde Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY).
As vítimas foram identificadas como Noemia Yanomami, removida da comunidade do Tirei no dia 30, que veio a óbito no dia 1° de setembro, no hospital de Boa Vista. Filha de Jedeane Yanomami, removida dia 25 de agosto, que, segundo consta, foi pega de helicóptero e devido à gravidade foi enviada direto para Boa Vista, acompanhada do médico da comunidade de Pixahanapi, tendo falecido no translado.
Filho de Paloma Yanomami, removida no dia 22 de agosto, veio a óbito no dia 23 do mesmo mês, na comunidade Pixahanapi Cachoeira, antigo Kunamariu. Filho de Marisita Yanomami, resgatado no dia 30 de agosto da comunidade Pixahanapi Cachoeira, veio a óbito em Surucucu.
Uma quinta criança, também de Pixahanapi Cachoeira, faleceu com um quadro grave de desnutrição e desidratação antes que fosse feito seu resgate, não tendo sido possível identificar sua família. Na madrugada do último sábado, 10 de setembro, veio a óbito uma sexta criança, filho de Jussara Yanomami, que fora resgatada de sua de comunidade Pixahanabi / Kuniamariu para o polo de Surucucus com um quadro grave de vômitos e diarreia e não resistiu.
Essas seis mortes de crianças num espaço curto de tempo se somam a outras três já registradas no Xitei, na comunidade Tirei, dois meses antes, no início de julho. Destas, duas morreram por pneumonia, sendo uma delas um tipo de pneumonia causada pela infestação massiva de vermes no corpo da criança.
Poucos médicos
Além dos postos fechados, há um baixo número de médicos na Terra Yanomami. Por isso, é possível que o número de mortes de crianças esteja subnotificado. As fichas de saúde são preenchidas por agentes de saúde, mas precisam levar a assinatura de médicos. Porém, há relatos de falta de médicos em locais de atendimento quando ocorrem os óbitos.
O garimpo avança de forma desenfreada na Terra Indígena Yanomami (TIY). O Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal (SMGI) indica que do início deste ano até agosto a área destruída aumentou mais de 1.100 hectares. Em comparação a dezembro de 2021, houve um aumento de 35% de devastação.
Apesar da ocorrência de uma recente operação da Força Nacional, na região do Xitei, esta se limitou à destruição de dois “barracos”, enquanto todos os demais que circundam a região permaneceram intactos, fornecendo suporte para os canteiros destruídos, o que permitiu que estes fossem rapidamente retomados.
Posicionamentos
Procurado, o Ministério Público Federal de Roraima (MPF) informou que recebeu a denúncia e que “pleiteou na Justiça a reabertura dos postos de saúde” e que, recentemente, recebeu uma carta das lideranças indígenas denunciando a precariedade da saúde indígena. A Polícia Federal e a Funai não respondeu aos nossos questionamentos até a publicação desta reportagem.
[…] delas estão a desnutrição severa em crianças Yanomami, a falta de atendimento médico, o aumento das mortes de crianças, a degradação das florestas e rios, os ataques de garimpeiros à comunidades, […]