Foto: Sérgio Roxo

Em entrevista a jornalistas estrangeiros na manhã dessa segunda-feira (22) em São Paulo, o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o Brasil vai tratar a Venezuela “com respeito” em um eventual novo governo petista. Ele ainda elogiou o movimento do presidente americano, Joe Biden, de reaproximação com o país latino-americano.

“Espero que a Europa trate com respeito, espero que os Estados Unidos restabeleçam relações com a Venezuela. Só tem um jeito de restabelecer a convivência democrática: é você não tentando criminalizar as pessoas. Eu até fiquei feliz de ver que o Biden está tentando uma nova reaproximação com a Venezuela. Espero que não seja só por causa do petróleo, espero que seja por causa da civilização”, declarou.

O petista criticou, porém, o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino por parte da União Europeia após as eleições de 2018 na Venezuela. Lula chamou Guaidó de “impostor”. O reconhecimento foi revisto em 2021.

“Aprendi a respeitar a autodeterminação dos povos, não posso ficar me metendo. Sempre desejando que a Venezuela seja a mais democrática possível, defendo a alternância de poder não apenas para mim, mas para todos os países”, afirmou.

As declarações contrastam com posturas passadas de Lula e do PT em relação à Venezuela. Por anos, o partido teve proximidade com o ex-presidente Hugo Chavéz e depois com Nicolás Maduro. Em 2016, por exemplo, durante eleições no país vizinho, o PT soltou uma nota elogiosa ao processo, afirmando que “ocorreu em respeito às regras democráticas”.

Em 2019, quando Guaidó declarou-se presidente interino do país, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu que Maduro havia sido eleito conforme “regras constitucionais”. Em 2020, quando o então secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo fez uma visita a Roraima, Lula afirmou que se tratava de mera provocação à Venezuela”. “Os EUA precisam desistir dessa mania de querer ser o xerife do mundo.”

Fake news

Durante o encontro, Lula também afirmou que o Brasil vive uma situação “um pouco anômala em se tratando de um país democrático” por causa da divulgação de fake news.

“Nós estamos a 41 das eleições e eu penso que todos vocês, que acompanham o processo político eleitoral, sabem que estamos vivendo uma situação um pouco anômala em se tratando de um país democrático porque há muita fake news espalhada diariamente na tentativa de conturbar as boas intenções e a cabeça de milhões de brasileiros”, afirmou Lula em um pronunciamento, antes do início das perguntas dos correspondentes estrangeiros.

Em outro momento, durante as perguntas, Lula voltou a dizer que Jair Bolsonaro (PL) é uma “cópia mal-feita de Trump”, em referência ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Indagado se há chance de o atual presidente não aceitar o resultado das urnas, o petista respondeu: “Esse cidadão pode ficar certo que o resultado das eleições será acatado”.

Desrespeito às instituições

O petista também disse que o Brasil hoje está em condições piores do que as de 2003, quando ele chegou ao poder pela primeira vez, e acusou Bolsonaro de não respeitar as instituições.

“Mais grave ainda é que o Brasil neste instante vive um momento de confusão porque o presidente faz questão de não respeitar as instituições que foram criadas para fortalecer o processo democrático brasileiro”.

O candidato do PT se queixou dos ataques contra a sua mulher, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, por parte dos bolsonaristas.

“Quando você começa a envolver mulher em campanhas é porque você não tem o que falar. Eu tenho lido coisas nas redes sociais. Partindo de quem parte, a gente sempre tem que esperar o pior, porque daquele mandacaru (espécie de cacto) não nasce flor cheirosa. É só coisa ruim.”

Durante a entrevista, Lula lamentou as mortes do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileira Bruno Pereira e se comprometeu a se empenhar pela preservação da Amazônia:

“Não quero utilizar desmatamento zero porque não quero beirar a perfeição”.

O candidato destacou que o Brasil tem soberania sobre o território da Amazônia, mas disse que a ciência deve explorar todo o potencial de biodiversidade da região.

Ao falar de economia, Lula defendeu o investimento público como indutor da retomada do crescimento.

“O Estado brasileiro vai ter que fazer um grande investimento em obras públicas. O Estado precisa ser o indutor desse investimento para que ele motive a iniciativa privada a acreditar que o governo está falando sério. Porque se o governo falar e não acontecer, nenhum empresário vai fazer investimento. Então, o pontapé tem que ser dado pelo governo”.

Lula também disse que, caso eleito, pretende trazer a “trazer a taxa de juros para um número considerado razoável”. Argumentou ainda que a alta de preços atual não é causada pela demanda e sim pelos preços administrados.

O ex-presidente ressaltou, porém, que parte dos planos para a economia não pode ser revelado.

“Aprendi com os economistas mais velhos, nem sempre em economia você pode dizer tudo que vai fazer. Porque se você disser você não faz. Aparece gente para atrapalhar”.

O candidato revelou que se eleito pretende trabalhar para promover o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Ele disse não considerar que o acordo esteja concretizado em “sua plenitude”.

“Negociação tem que ser uma negociação em que todos ganham. O que queremos na discussão é não abrir mão do nosso interesse de nos reindustrializar”.

Também disse que a ONU precisa ser reformulada para evitar conflitos como a guerra da Ucrânia. Afirmou espera que, até eventualmente tomar posse , o conflito já tenha acabado, mas que se isso não acontecer, irá trabalhar para negociar um cessar fogo entre a Rússia e a Ucrânia.

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