A violência letal na região da Amazônia, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), é 38% maior que em outras regiões. “São mais de 20 organizações criminosas regionais e duas nacionais disputando as rotas de armas e drogas”, explica o sociólogo e diretor-presidente do Fórum, Renato de Lima.
“Qualquer projeto de desenvolvimento para a Amazônia deve considerar a necessidade de recuperar os territórios das mãos das facções e milícias, prevenir a violência e enfrentar o crime, o que, para a população, não está sendo feito pelo governo”, acrescenta o especialista.
Ainda de acordo com a pesquisa, que conversou com 3 mil eleitores de todo o país, 39% deles acreditam que o tráfico de drogas é o principal crime cometido na região, seguido pela grilagem de terras, com 17%, e o garimpo ilegal, com 13%. A corrupção (9%), a exploração ilegal de madeira (8%) e o tráfico de animais (4%) também foram destacados.
O estudo tem o objetivo, além de medir a violência da região, de sondar a opinião daqueles que irão votar nas eleições deste ano sobre o combate à violência local pelo próximo presidente da República.
Para a grande maioria (65%), o governo federal não está trabalhando para combater a grilagem, o tráfico de drogas, a exploração ilegal de madeira e outros crimes na Amazônia. Só 17% acreditam que o presidente Jair Bolsonaro (PL) trabalha para conter as práticas criminosas.
Oito em cada dez entrevistados ainda afirmam que esperam que o próximo mandatário tome medidas urgentes quanto à segurança. O interesse por esse plano aumentou após a morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados em junho.
A pior avaliação do desempenho do governo no combate à violência na Amazônia foi detectada nos estados da região Norte, onde 69% disseram que o governo não está trabalhando para combater crimes na região, contra apenas 9% de avaliação positiva.
Exterior
Em relação à pesquisa anterior, o número de pessoas que acreditam que a preservação da floresta é “muito importante” para a imagem do Brasil no exterior cresceu, indo 41%para 44%.
Os que consideram “mais ou menos” importante foi de 12% e os que dizem que “não tem importância” foi de 9% para 8%.
Desenvolvimento
Outro ponto questionado na pesquisa é sobre a importância da Amazônia para o desenvolvimento econômico do país. Para 65% dos entrevistados a proteção da área é importante e para 19% não.
Para a doutora em Ciências Sociais e coordenadora Laboratório de Estudos Interdisciplinares da Amazônia na Universidade Federal do Amazonas Marilene Corrêa, a pesquisa encerra a ilusão de que a floresta poderia ter o mesmo modelo de industrialização, urbanização e agricultura de outros países.
“Esses modelos fracassaram aqui na Amazônia por incompreensão da relação entre natureza e cultura. As cidades se tornaram precárias, e a transformação da floresta em pasto não gerou empregabilidade. Esses modelos fracassados ampliaram a agressão aos povos da Amazônia, as principais vítimas da desigualdade e da violência”, diz Marilene.
“Todos sabem que pecuária, garimpo, soja, contaminação dos rios, tudo isso agride e não se torna fonte de desenvolvimento. Após tantas frustrações, a proteção da Floresta precisa se impor à agenda do desenvolvimento, com aproveitamento inteligente dos recursos naturais”, diz Marilene. Ela também ressalta a preocupação com o crescimento do crime. O modelo predador e a falta de mecanismos de comando e controle, segundo ela, “estimularam as forças primitivas de acumulação de riqueza, que não usam a tecnologia nem a sabedoria tradicional, só a força para saquear e matar”, finaliza.