Diferentemente dos esforços bem-sucedidos do governo para abaixar o preço da gasolina nos postos, o preço do óleo diesel continua tendo uma trajetória de alta e não há sinais de que possa voltar a cair.
O litro do combustível vem subindo mês a mês desde dezembro de 2021 de acordo com o levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A Petrobras, que precifica o combustível na venda para as distribuidoras, ainda vê um mercado ‘estressado’ e sem chances de uma baixa significativa.
A avaliação é do porta-voz na área de preços, Claudio Mastella, diretor de Comercialização e Logística, e foi compartilhada com jornalistas na última sexta-feira (29/7). Hoje o preço médio do litro do óleo diesel nos postos é de R$ 7,42. O valor é mais que o dobro dos R$3,69 registrados pela pesquisa da ANP em janeiro de 2021.
A disparada do preço nesse intervalo de tempo tem um conjunto de fatores como causa, mas a raiz está na Política de Paridade Internacional de Preços da Petrobras, que basicamente nivela os valores praticados no Brasil aos de empresas importadoras e do mercado mundial.
Hoje a maior fatia do preço (cerca de 67%) é o valor bruto do litro de óleo diesel cobrado pela estatal das distribuidoras, o que equivale a cerca de R$ 5,06. Os outros 33% são impostos e o lucro de distribuidoras e postos, além da mistura obrigatória com biodiesel.
Os preços dispararam depois do início da Guerra da Ucrânia. A Rússia tinha uma fatia próxima a 15% do mercado global e passou a sofrer boicote. Somado ao fato de o dólar ter subido e o preço do barril de petróleo também, o preço internacional disparou e a paridade acompanhou.
Grandes produtores ou consumidores mundiais como Estados Unidos, Índia e países do Oriente Médio e Europa, também estão com estoques baixos de diesel.
Hoje, de 25% a 30% do óleo diesel usado para abastecer o país é importado. Aumentar a produção nacional até poderia ajudar a baixar o preço, mas para isso dois movimentos seriam necessários: mudar, ou pelo menos relativizar, a política de paridade internacional e aumentar a capacidade de refino.
Mas para aumentar o refino, a Petrobras precisaria construir ou expandir refinarias, o que não está no plano estratégico da companhia. Para além disso, as refinarias operam hoje com capacidade próxima a 97%, já chegaram a bater até 99% nas últimas semanas, e vão precisar parar para manutenções programadas – o que aumentará a necessidade de importar o combustível.
Outras refinarias que abastecem o mundo, nos Estados Unidos e Caribe, também devem precisar parar por conta da temporada de furacões. Isso em um momento que o Brasil costuma precisar de mais diesel, por conta do momento econômico.
Em setembro, os caminhoneiros brasileiros transportam as safras do milho, soja e cana de açúcar, além das compras de Black Friday e Natal, que abastecerão as lojas de todo o país. Com mais demanda, o preço também sobe.
No fim de maio, o então presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, enviou um ofício ao Ministério de Minas e Energia alertando para ‘incertezas’ das ‘cotações internacionais’ do diesel. É que com esse complexo cenário, não dava para prever – na opinião dele – quanto o preço subiria.
“Diante do cenário de escassez global de diesel e do cronograma de paradas programadas das refinarias — apesar dos melhores esforços da companhia, a Petrobras entende que há elevado risco de desabastecimento de diesel no mercado brasileiro no segundo semestre de 2022. Adicionalmente, há também grandes incertezas quanto aos níveis das cotações internacionais do produto nessa conjuntura de escassez”, apontou Coelho no documento.
Dois meses depois, o diretor que cuida dos preços da Petrobras, voltou a sugerir que o preço não deve cair.
“Além do que está acontecendo hoje, tem a aproximação do inverno no hemisfério norte. A expectativa é de o diesel ficar nesse nível mesmo ou até mais forte. A menos que se confirme, por exemplo, uma forte recessão global, que não se configurou. Enxergamos hoje o mercado andando de lado, com reforço possível para o diesel no fim do ano”, afirmou Mastella a investidores em conferência virtual na última semana.
Neste cenário complexo, o presidente Jair Bolsonaro já informou que está negociando compra de remessas de óleo diesel com a Rússia. A CNN questionou as grandes distribuidoras sobre essa negociação, mas nenhuma delas confirmou a pretensão.
Sobre isso, quando questionado se estava nos planos da Petrobras comprar da Rússia o óleo diesel, Mastella disse que a estatal ‘não descarta nada’, mas também não confirmou a pretensão.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, o plano é difícil de virar realidade. “Com as sanções impostas, nossos associados afirmam que é impossível fazer o pagamento de cargas de origem na Rússia. Nenhum banco de primeira linha aceitaria fazer esta operação”, afirma Araújo.
Ele diz ainda que não é usual importar o combustível da Rússia. “Um navio com diesel da Rússia leva até 50 dias pra chegar no Brasil. Mas além do longo tempo de viagem, ainda temos valores de frete e seguro mais caros”, completa ele.