Um novo fenômeno se faz cada vez mais visível em todas as cidades venezuelanas: o retorno de emigrantes que haviam deixado a Venezuela para viver, em sua maioria, em outros países da América do Sul. Ao que tudo indica, a grave crise econômica que afeta a Venezuela desde 2013 e que levou mais de 6 milhões de venezuelanos a abandonarem o país, parece ter chegado a um limite, segundo especialistas.
Em 2016, a economia da Venezuela caía 18,6%, e a inflação batia todos os recordes, chegando perto de 800%. Nessa época, a fome, o desemprego, o alto custo de vida e o salário mínimo baixo, que era insuficiente para pagar até uma cesta básica, impulsionaram milhões de venezuelanos a buscar uma vida melhor em outros países da América do Sul e do mundo.
Sinais de recuperação
De fato, faz alguns meses que a economia venezuelana mostra alguns sinais de recuperação. Em março, o país sul-americano registrou uma taxa mensal de inflação de 1,4%, a mais baixa desde setembro de 2012. Em abril, subiu para 4,4%, mesmo assim bem abaixo dos 24,6% registrados em abril de 2021.
Além disso, a produção de petróleo, principal fonte de riqueza do país, começou a aumentar no final do ano passado, depois de alcançar um mínimo histórico em 2020, quando caiu para 434 mil barris por dia. Em dezembro do ano passado, a Venezuela produziu 718 mil barris por dia e, desde então, a produção se mantém pouco abaixo dos 700 mil barris.
Ainda que esta quantidade ainda seja muito pequena para um país que produzia mais de 3 milhões de barris por dia em 1998, e que tem as maiores reservas de petróleo bruto do mundo, ela quase duplicou em comparação com a queda histórica de 2020.
A Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) prevê que neste ano a Venezuela será um dos países que mais vão crescer na região, com um crescimento estimado de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O Fundo Monetário Internacional, por outro lado, prevê um crescimento mais modesto da Venezuela: 1,5%.
O economista venezuelano Luis Vicente León explica que é uma melhora “sobre uma pequena parte do que costumava ser” a economia venezuelana. Ele avalia que as sanções impostas pelos Estados Unidos e o isolamento do governo obrigaram o presidente Nicolás Maduro a aceitar uma abertura econômica.
“A pressão e a perda de controle do governo sobre a economia o obrigaram a permitir uma dolarização de fato da economia e também levou a processos de abertura de preços e de menor hostilidade com o setor privado”, diz León, que também é presidente da consultoria Datanálisis.
“A economia segue sendo pequena, mas está em melhor condição que há dois anos.”
A Venezuela alcançou o pico do êxodo em 2018, registrando uma taxa líquida de migração — os que saem menos os que voltam — de cerca de 1.850.000 pessoas, segundo dados da Datanálisis.
No ano de 2021, o saldo migratório foi de -180.000. Ainda que mais gente tenha saído do que entrado, este número é apenas 10% do registrado em 2018.
“A Venezuela continua perdendo gente. Ainda tem mais pessoas deixando o país que voltando, mas as saídas caíram drasticamente, e agora tem cada vez mais gente retornando”, confirma Luis Vicente León.
Xenofobia
Segundo o economista, a maioria retorna de outros países da América Latina.
“A Venezuela atravessou três grandes ondas migratórias. Primeiro, saiu a elite. Depois, saíram os profissionais que não enxergavam um bom futuro para suas carreiras. E então, mais recentemente, teve a onda mais numerosa, composta sobretudo por uma população mais pobre, com menor escolaridade e que migrou para países vizinhos, a maioria por terra”, destaca.
Segundo o economista, “os últimos a emigrar também estão sendo os primeiros a regressar. León explica que a razão é simplesmente o fato de estarem geograficamente mais perto e poderem voltar por terra. Além disso, ele afirma que as diferenças salariais para mão de obra não qualificada entre a Venezuela e países vizinhos agora são menores.
“Há dois anos, uma empregada doméstica na Venezuela ganhava entre US$10 e US$15 mensais, e era impossível sobreviver com isso. Agora, pode ganhar entre US$ 200 e US$ 250 por mês”, assegura. A isso se soma o fato de não ter que lidar com xenofobia no seu país e não precisarem, em muitos casos, pagar aluguel, porque têm suas casas ou se hospedam na residência de familiares na Venezuela.
Em maio, o governo venezuelano anunciou que repatriou 264 venezuelanos que estavam no Peru, por meio do programa governamental “Plano de volta à pátria”, que entrou em vigor em 2018 para facilitar o retorno de emigrantes. Segundo o governo, desde a criação do programa em 2018, retornaram ao país cerca de 30 mil venezuelanos provenientes de 20 países.
– A matéria não espelha a verdade. Afirmar que a economia venezuelana apresenta sinais de recuperação é uma absoluta falta de verdade.
– Não resta dúvida que tem “entrado” mais dinheiro na Venezuela ultimamente, mas é fruto da discrepante elevação do preço do barril de petróleo no cenário internacional, acrescido da escassez provocada pela guerra Russia/Ucrânia.
– O governo continua o mesmo, o regime igual, saqueando o país, eliminando o processo democrático e massacrando o povo .
– Essa é a verdade que Maduro e seus comparsas fazem questão de esconder.