O ator e vencedor do Oscar Leonardo DiCaprio, também ativista de causas ambientais, se manifestou nesta sexta-feira (15) em apoio ao acampamento Terra Livre, onde milhares de indígenas se reuniram durante pelo menos dez dias nas proximidades do Congresso Nacional e do Planalto Central, em Brasília, e reivindicaram a demarcação de terras e protestaram contra a exploração destes territórios pertencentes aos povos originários, que pode ser institucionalizada caso o Projeto de Lei (PL) 191/2020, de autoria do governo federal, seja aprovado na Câmara.
“De 4 a 14 de abril, povos indígenas do Brasil marcharam para defender seus direitos à terra e por um planeta mais habitável para todos nós. O Acampamento Terra Livre levou mais de 7 mil indígenas de 200 etnias para a capital do Brasil para reivindicar que o governo honre com seus direitos que são protegidos pela Constituição Federal de 1988, e que parem as indústrias de extração, mineração e exploração de madeira em seus territórios”, escreveu DiCaprio.
O astro também publicou um vídeo, que mostra a manifestação indígena em Brasília, e destaca a luta dos povos contra o que ele chama de “agenda anti-indígena” do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que recentemente recebeu da Funai a Medalha do Mérito Indigenista, criada em 1972, com o objetivo de reconhecer figuras atuantes para “o bem-estar, proteção e defesa dos povos indígenas”.
O apoio de DiCaprio aos indígenas brasileiros é publicado um dia após a cacica Juma Xipaia, da aldeia Kaarimã, de Altamira (PA), ter feito um apelo nas redes sociais denunciando o avanço de garimpeiros ilegais no território Xipaia. O ator e a liderança indígena se conheceram em novembro do ano passado, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021 (COP26), em Glasgow, no Reino Unido, quando posaram para uma foto juntos, publicada por ele.
“Tive a honra de conhecer uma jovem liderança indígena, que desde a infância, tem lutado contra a construção da barragem da Usina de Belo Monte no Rio Xingu. Sua luta contínua pela sobrevivência dos povos indígenas, pela floresta tropical, pelo empoderamento feminino, seus sonhos e esperanças nascidos de lutas e ameaças sofridas tocaram profundamente o meu coração. As palavras de Juma ficarão comigo para sempre”, escreveu na ocasião.
O PL 191/2020, de autoria do governo federal e que tramita em plenário na Câmara dos Deputados, é alvo de muitas críticas, não só de indígenas, mas de ambientalistas e estudiosos, e prevê ai liberação de todo tipo de exploração em terras indígenas, entre elas a mineração, o garimpo, a extração de petróleo e gás, a construção de hidrelétricas, agropecuária e turismo e sua aprovação é tida como uma das prioridades de Bolsonaro.
Xipaia, Mundukuru, Ianomâmis… os relatos e denúncias de avanço na exploração ilegal — seja de garimpeiros, fazendeiros, grileiros ou empresas de extração de madeira — se multiplicam todos os dias, não importa qual é a etnia. Além da destruição ambiental, relatórios mostram que indígenas têm sofrido todo o tipo de violação de direitos humanos por parte desses invasores.
Recentemente, um documento elaborado pela Hutukara Associação Yanomami, sobre o panorama vivido pelos ianomâmis, apontou que a destruição provocada por garimpeiros cresceu 46% em relação a 2020, um incremento de 1.038 hectares, atingindo um total acumulado de mais de 3 mil campos de futebol devastados, a maior taxa anual desde a demarcação da área, em 1992.
O relatório também mostrou a vulnerabilidade dos indígenas afetados pelas atividades garimpeiras. As cerca de 350 comunidades são reféns de um esquema criminoso que envolve aliciamento, assédio de menores, violência e abuso sexual contra mulheres e crianças, algumas embriagadas por bebidas alcoólicas e estupradas até a morte.