Publicação, que viraliza de tempos em tempos na internet, traz relato falso sobre o estado de Roraima

Uma mensagem que relata como seria morar em Roraima circula em e-mails há quase 20 anos, elencando uma série de problemas no estado. A mensagem tem a assinatura em nome da bióloga da Universidade de São Paulo (USP), Maria Silvia Alexandre Costa. Esta semana o texto voltou a aparecer em grupos de aplicativos de mensagem.

Entre as afirmações, a mensagem informa que “não existem indústrias no Estado”, que “70% do território roraimense é demarcado como reserva indígena” e que “na única rodovia que existe”, brasileiros não passam, a não ser que tenha autorização da FUNAI (Fundação Nacional do Índio). O acesso, no entanto, seria livre para estrangeiros.

Ainda de acordo com o texto, “os estrangeiros são favorecidos e os Estados Unidos, interessados na riqueza da Floresta Amazônica, exploram o estado para patentear recursos”. A bióloga afirmaria ainda que até mesmo uma invasão militar está no radar dos estadunidenses, para manter os interesses econômicos no local, sob alegação de estarem “combatendo o narcotráfico”.

As informações contidas neste texto são falsas. A começar pela assinatura. Maria Silvia de fato é bióloga e já trabalhou na USP. Mas há quase 20 anos ela luta para provar que nunca fez esse texto. E nem poderia, porque nunca esteve em Roraima.

“Gostaria de informar que se você está tentando me localizar para saber da veracidade do e-mail que fala sobre Roraima, posso lhe afirmar que tal e-mail não é de minha autoria, NUNCA ESTIVE EM RORAIMA”, informou a bióloga.

O texto mente ainda, nas informações sobre o estado no extremo Norte do país. Em um dos trechos, é dito que a proporção do estado é de “um roraimense para cada dez pessoas”. Essa informação é falsa. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 55% das pessoas que vivem em Roraima nasceram aqui.

É mentira também que Roraima não tem nenhuma indústria. Dados da FIER (Federação das Indústrias do Estado de Roraima), de 2019, indicam que o estado possui mais de 500 indústrias, que geram mais de dez mil empregos diretos e R$ 10 bilhões para o PIB (Produto Interno Bruto) local.

Em relação à parcela da área do estado que é considerada terra indígena, o número correto não é o de 70%, que consta na mensagem.  A área destinada à demarcação de terras indígenas equivale a 46,20% do território roraimense, segundo dados do IBGE e do Instituto Ecoamazônia.

Roraima não tem, também, uma única estrada. Existem 27 rodovias estaduais em território roraimense.

Sobre a circulação em áreas públicas, o estado segue o que está na lei e vale para todo território brasileiro. Cidadãos brasileiros e estrangeiros tem direito de circular e não há qualquer dispositivo legal que faça com que brasileiros precisem de autorização da FUNAI para passar por uma rodovia, enquanto estrangeiros são liberados.
O que ocorre na BR-174 na reserva Waimiri-Atroari, no caminho para Manaus, é o bloqueio noturno para carros de passeio e caminhões de carga não-perecível, porque neste horário não há ninguém monitorando o que os condutores possam vir a fazer dentro da área indígena. A preservação do animais de hábitos noturnos é a principal razão para o bloqueio neste horário. Ônibus, carros oficiais, ambulâncias e casos avaliados como urgentes são liberados.
Assim como a maioria dos textos falsos que circulam online, ele pede o compartilhamento. Não só o texto que fala como é viver em Roraima não foi escrito por uma professora como também ele é recheado de estereótipos e exageros. Não compartilhe o texto, compartilhe a verdade.

 

3 comentários

  1. Lamentável e curioso que uma postagem falsa desse quilate esteja circulando há 20 anos e nenhuma autoridade tenha rastreado e identificado sua origem e autoria. Isso, na minha opinião, não é incompetência nem falta de ferramentas e/ou recursos; é falta de vontade, ausência de comprometimento com a verdade. Afinal, trata-se de uma unidade federativa perdida lá no extremo norte, riquíssima em recursos naturais e sim, assediada sempre por interesses externos não confessáveis. Já dizia meu avô: “onde tem fumaça há fogo”, e essa postagem “falsa” pode muito bem ser a fumaça que revela o fogo que querem esconder.

  2. Vivi la em 1998 , trabalhei no governo, fiscalizei eleições em área indígena e o cenário não era tão diferentes do mencionado no texto da bióloga, exceto tamanho menor da área indígena , demais informações bem parecidas com o que ouvi de residentes e constatei. Hoje sei q em ” alguns aspectos “melhorou.

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