Um dos sintomas é formigamento pelo corpo. Foto: divulgação

Imagine conviver com uma doença que quase metade da população não sabe o que é ou quais são seus indícios. Esse é o caso da esclerose múltipla, um distúrbio crônico autoimune que, segundo pesquisa de 2017 do Instituto Datafolha, 46% dos brasileiros desconhece.

E neste Dia nacional de Conscientização da Esclerose Múltipla, celebrado em 30 de agosto, é urgente desmistificar o problema que afeta mais de 2,8 milhões de pessoas no mundo.

“A esclerose múltipla é uma doença responsável por provocar um processo inflamatório que agride o sistema imunológico, o que a configura como autoimune, comprometendo o sistema nervoso central. Ela lesiona a bainha de mielina, uma espécie de capa que reveste os filamentos nervosos, causando uma série de disfunções que podem ser incapacitantes e evoluir progressivamente com o passar dos anos”, conta o neurocirurgião Dr. Claudio Corrêa.

Identificando a esclerose

A desinformação mostrada pelo estudo do Datafolha, é uma barreira que dificulta a procura por um diagnóstico precoce.

“Como este distúrbio ainda não tem causa definida, não há uma cura possível. E já que possui desenvolvimento gradual, é muito importante que seja diagnosticada o quanto antes, para que consigamos iniciarmos um tratamento que contenha o avanço de suas manifestações”, explica o especialista.

A EM costuma se apresentar de maneira sutil, geralmente transitória. É comum que os sintomas durem uma semana e parem, por exemplo. Suas caraterísticas mais observadas nos dois primeiros anos são turvação visual e descontrole da urina; após, podem ocorrer alterações motoras e cerebelares que se traduzem em:

  • Visão dupla, conhecida também como diplopia
  • Perda da visão
  • Cansaço
  • Fraqueza
  • Formigamento das pernas, às vezes em apenas um lado do corpo
  • Desequilíbrio
  • Tremores
  • Descontrole do esfíncter anal e vesical

“As pessoas mais acometidas são as mulheres entre 20 e 40 anos. No Brasil, estima-se que 40 mil pessoas convivam com a esclerose múltipla”, pontua Dr. Corrêa.

Neurocirurgia pode ajudar a conter características motoras da EM

Os métodos de tratamento disponíveis buscam reduzir a fase aguda da EM, momento em que aparecem suas manifestações, onde os corticosteroides são medicamentos indicados para diminuir a intensidade das crises.

Para espaçar o intervalo entre um surto e outro, são recomendados imunossupressores e imunomoduladores, que também contribuem para minimizar o impacto negativo que os sintomas provocam na rotina dos pacientes.

Além disso, é aconselhável que o indivíduo mantenha a prática regular de atividades físicas, aliada à fisioterapia motora e associação de medicação para o controle esfincteriano, se comprometido.

Em cenários que há espasticidade, uma alteração do controle muscular que é caracterizada por rigidez e tensão dos músculos, é recomendada a fisioterapia de reabilitação física somada à medicação, bem como procedimentos neurocirúrgicos em cenários mais limitantes.

Uma técnica muito empregada é a rizotomia dorsal seletiva, onde o neurocirurgião isola as inervações que enviam mensagens de contração para o músculo afetado. Após, são cortadas as fibras mais prejudicadas para aliviar a espasticidade, mas preservar outras funções motoras e sensitivas.

“Outro método possível é a injeção de relaxante muscular por meio de bombas eletrônicas de infusão”, pontua o médico. Em quadros de distonia segmentar, que afeta apenas uma região do corpo, a aplicação de toxina botulínica tem mostrado resultados muito eficazes.

A neuralgia do trigêmeo, uma doença crônica associada ao nervo trigeminal, é outro fenômeno que atinge 10% dos indivíduos com esclerose múltipla. Para ela, é apresentado um procedimento operatório de importante resultado.

A compressão com balão do gânglio de Gasser é a técnica mais aconselhada neste caso, sendo minimamente invasiva e de realização bem rápida, cerca de dez minutos, com o paciente podendo conferir os resultados imediatamente após a cirurgia.

Em todos os casos, é importante ressaltar que embora a EM não tenha cura, o tratamento multiprofissional é essencial para conter e minimizar os sintomas evolutivos da doença.

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