Canteiro de garimpo na região do Apiaú na Terra Indígena Yanomami (Foto: divulgação)

Imagens feitas durante sobrevoos à Terra Indígena Yanomami em abril deste ano revelaram que o garimpo ilegal na  produziu uma nova ‘Serra Pelada’ — nome do maior garimpo de ouro a céu aberto do mundo, no sudeste do Pará, denuncia a Hutukara Associação Yanomami.  Assim como na corrida do ouro dos anos 1980, a crise econômica e o preço do metal estimulam os garimpeiros à atividade, que hoje promove o desmatamento, a contaminação dos rios por mercúrio, a violência contra comunidades e, também, a disseminação da Covid-19 no território indígena.

“As cenas observadas no [rio] Uraricoera, ao rememorar Serra Pelada, alertam para a imensa tragédia ambiental e humana que o garimpo na TI Yanomami tem se tornado. Não foi por falta de aviso, porém, que a situação atingiu tal gravidade”, lembra o relatório dos sobrevoos.

Atualmente, mais de 20 mil garimpeiros estão na localidade. Decisão de março deste ano da 2ª Vara da Justiça Federal de Roraima, que atendeu pedido do Ministério Público Federal, exigiu um cronograma para a retirada dos invasores. Em julho de 2020, o MPF conseguiu uma liminar que determinou que a União agisse para liberar o território. No entanto, nenhuma das decisões judiciais foi executada até o momento.

“Não se trata de um problema sem solução. O Estado possui todas as condições para fazer valer a lei e promover a neutralização dos crimes praticados pelo garimpo contra os indígenas da TI Yanomami e o restante da sociedade brasileira”, afirma o documento. “A experiência do passado prova que isso é possível, por meio de ações estratégicas. Acelerar o tempo de resposta a este desafio, a partir de um plano de ação estratégico e coordenado, é também uma forma de preservar recursos da União e valorizar seu patrimônio”.

Em março de 2021, análises de imagens de satélite indicaram um total de 2.430 hectares destruídos pelo garimpo na Terra Indígena Yanomami, sendo que no primeiro trimestre deste ano a área destruída cresceu quase 200 hectares. Somente em 2020, 500 hectares de floresta amazônica foram devastados. Nesse ritmo, 2021 deve marcar um novo recorde de destruição.

Conforme revelam os sobrevoos em abril, os garimpos cresceram sobretudo nas calhas dos rios Mucajaí e Catrimani, nas regiões de Kayanau, Homoxi e Alto Catrimani. Antes, as grandes áreas impactadas se concentravam no Uraricoera. “Tal fenômeno (…) é um importante indicador do desenvolvimento das estruturas de apoio [logística e de serviços] nessas zonas, e deveria servir de alerta para os riscos da consolidação de novas ‘cidades’ do garimpo na TIY”, sublinha a Hutukara.

Garimpo no Rio Uraricoera (Foto: divulgação)

Próximo à foz do rio Parima, no rio Uraricoera, há uma das maiores concentrações de garimpeiros já vistas, em cenas que lembram as de Serra Pelada, há 40 anos. Impressionam a magnitude do impacto, a profundidade das crateras e a complexidade da estrutura de apoio à atividade, com a existência de barracões especializados. Em um deles há um “restaurante”, com mesinhas redondas dispostas.

Área impactada pelo garimpo na região do Apiaú na Terra Indígena Yanomami (Foto: divulgação)

A concentração de garimpeiros na região próxima à foz do Parima é relativamente recente, afirma o documento, “tendo se expandido e consolidado nos últimos anos”. Segundo a Hutukara, as imagens “atestam o vigor desse núcleo garimpeiro e reforçam a ideia de que a formação das novas áreas se deu muito mais em caráter de expansão do que de substituição”, já que não se observou uma diminuição da exploração na ferradura do rio Uraricoera em Waikás, no local conhecido como “tatuzão do Mutum”.

Canteiro de garimpo ilegal na região do Rio Uraricoera (Foto: divulgação)

Operações 

Segundo a organização indígena, as operações realizadas nos últimos meses não têm sido suficientes para controlar o aumento vertiginoso da invasão. “Elas atenuam o impacto do garimpo em certas zonas, mas temporariamente e de forma não consistente”, ressalta.

“Para que a invasão seja de fato controlada, é preciso que as operações sejam mais abrangentes e eficientes na destruição da estrutura de apoio à atividade ilegal [explosão de pistas e destruição de currutelas], bem como na inutilização do maquinário utilizado [motores, balsas, aeronaves e helicópteros, quadriciclos, etc], para que os financiadores da atividade sejam descapitalizados e não possam reinvestir tão facilmente na retomada da invasão”, reforça a Hutukara.

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