Após suspeitas de desvio de vacinas contra o Covid-19 para imunizar garimpeiros, a organização Hutukara Associação Yanomami, em Roraima, denunciou ao Ministério da Saúde e ao Ministério Público Federal a troca de ouro por imunizantes pelos garimpeiros que trabalham ilegalmente na terra indígena.
A organização destacou que em janeiro foram recebidas 26 mil doses da vacina no estado para os indígenas. Porém, dos 37 polos de saúde que existem na terra, apenas dois já atingiram 100% da meta de vacinação.
Até março, somente 29% dos indígenas tinham recebido as duas doses, afirma a associação. Outro fato mencionado pelas lideranças, foi que os garimpeiros propagaram fake news sobre os imunizantes, com intuito de assustar os indígenas.
Os Yanomami detêm o maior território indígena em extensão do Brasil: na terra vivem mais de 26 mil indígenas e mais de 20 mil garimpeiros invadiram o local, de acordo com os indígenas. Entretanto, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou no ano passado que haviam 3,5 mil garimpeiros no território indígena.
“É inadmissível que, em meio à insistente piora nos índices de saúde das comunidades indígenas da Terra Indígena Ianomâmi em plena pandemia da Covid-19, o órgão responsável pelo atendimento da saúde indígena tenha seus recursos desviados para atendimento de não indígenas que trabalham no garimpo ilegal”, destacou Hutukara na carta enviada ao secretário especial de Saúde, Robson Santos da Silva.
O nome de pelo menos uma técnica de enfermagem de um polo base do DSEI-Y (Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami) foi mencionada por aplicar vacinas nos garimpeiros em troca de ouro. Segundo apuração do UOL, a funcionária já está afastada do trabalho na região, mas o ministério não negou nem conformou a informação.
OUTROS CASOS
O caso dos ianomâmis não está isolado. Teria ocorrido situação parecida no polo de Homoxi e no Uxiu, em que foi notificada outra servidora. Na denúncia, afirma que os desvios não são apenas de vacinas. “É comum a queixa por parte dos ianomâmis de que os materiais e medicamentos destinados à saúde indígena estão sendo desviados para atendimento aos garimpeiros”, prática que é configurada como crime a administração pública na modalidade de peculato.
A precarização da saúde dos indígenas foi mencionada pela Hutukara, que, segundo ela, vendo se agravando com a morte de 22 crianças nas comunidades de 2020 até o início de 2021. O Conselho Indígena de Roraima repudiou a tentativa de “redistribuição” das doses destinas ao 80,7 mil que vivem na região.
“Não negociamos nossos direitos. Antes de tudo, as organizações indígenas e instituições de saúde representativas têm o direito de ser consultados sobre qualquer decisão tomada referente ao que vem em nome da população indígena, conforme art. 6º da convenção da OIT [Organização Internacional do Trabalho]”, afirmou o CIR em nota.
DOSES
Já a Secretaria Especial de Saúde Indígena disse que “Ministério da Saúde já distribuiu doses suficientes para a imunização de 100% dos indígenas aldeados, que fazem parte dos grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19. As equipes buscam ativamente as pessoas inclusas no público-alvo para a vacinação, se deslocando de todas as formas possíveis até as aldeias, e seguem dialogando com as com as lideranças locais para garantir a imunização”.