Com a proximidade das eleições, as obras de asfaltamento em Boa Vista se intensificaram e são realizadas até mesmo durante a noite. Moradores que há anos aguardavam por melhorias nas suas ruas, gravaram vídeos mostrando as máquinas trabalhando à noite, e relatando suspeita de interesse eleitoreiro.
De acordo com as informações constantes no Diário Oficial do Município (DOM), neste ano de 2020, a Prefeitura de Boa Vista firmou contratos que ultrapassam R$ 60 milhões para asfaltamento das ruas da capital, sendo mais de R$ 50 milhões com uma única empresa, a Coema.
No total, os contratos publicados no Diário Oficial somam R$ 60.194.855,56. No último dia 31 de julho, a prefeitura contratou a empresa Coema Paisagismo, Urbanização e Serviços LTDA por R$ 6.872.537,75. O contrato nº 934-SMO tem vigência de 150 dias.
Outro contrato (nº 159-SMO) firmado com a mesma empresa Coema Paisagismo, Urbanização e Serviços LTDA, no valor de R$ 40.670.055,61, foi assinado em 27 de fevereiro para execução dos serviços de drenagem urbana, pavimentação asfáltica, recapeamento e urbanização de ruas e avenidas de Boa Vista. A vigência do contrato é de 300 dias.
A mesma empresa também venceu a concorrência nº 002/2020, para execução dos serviços de pavimentação asfáltica com drenagem, meio-fio, sarjetas e calçadas na cidade, no valor de R$ 3.475.304,47. O aviso de homologação do processo licitatório nº 003394/2020 foi publicado no DOM de 29 de maio.
A empresa Extrema Norte Construções Eireli também foi contratada pela Prefeitura de Boa Vista para realizar pavimentação asfáltica, com drenagem, meio-fio, sarjetas e calçadas na capital. Pelo contrato nº 933-SMO, com vigência de 180 dias, a empresa deve receber R$ 1.837.991,20, conforme extrato do contrato assinado em 30 de julho. A unidade orçamentária é o convênio nº 437/2018, com o Ministério da Defesa e recursos próprios da gestão municipal.
Há ainda um extrato do contrato n° 1047/2020, publicado no Diário Oficial do Município no último dia 15 de outubro, relacionado ao processo n° 28937/2019, sobre o montante empregado na contratação de empresa especializada para execução dos serviços de recapeamento asfáltico em bairros de Boa Vista.
O Consórcio DR7 – IZA – Pontual, vencedor da licitação realizada ano passado na modalidade concorrência pública, recebeu R$ 7.338.966,53 para execução do serviço em vias da capital. A vigência do contrato é de 360 dias, contados da data de emissão da ordem de serviço.
As publicações não informam os bairros que serão atendidos pelos contratos. A população reclama que as obras se concentram na área central de Boa Vista, inclusive em locais onde o asfalto estava em boas condições, como a avenida Ville Roy, que teve o asfalto totalmente refeito este ano
Moradora há 30 anos do bairro Operário, a dona de casa Francisca Santos, diz que todos os anos sua família sofre com a poeira no verão e os alagamentos no período de chuvas. Ela reside na rua OP 31.
“Tem buracos fundos e imensos na rua. A água acumulada nos empata de passar e ameaça nossas casas. É um transtorno grande durante todo o ano, já que a poeira da rua sem asfalto também nos prejudica”, detalha a dona de casa.
A diarista Marilda Oliveira é outra cidadã afetada pela falta de infraestrutura básica nas ruas. Ela conta que morava com a mãe, na avenida Santo Antônio, no bairro Equatorial, mas teve que mudar de endereço devido aos transtornos causados pela poeira e buracos na via.
“O sentimento é de completo abandono. Eu mudei porque não aguentava mais. Mas minha mãe, uma idosa, doente, continua morando lá. O pior é que parte da avenida tem asfalto, drenagem e até flores, mas o restante está abandonada há anos. É muita poeira e lama quando chove”, destaca Oliveira.
Moradora do bairro Nova Cidade, a doméstica Bernadete da Silva informou que na rua Recife um enorme buraco se abriu, oferecendo riscos para os moradores e motoristas que trafegam pela via. “Moro aqui tem cinco anos e a rua sempre foi esburacada. No inverno não dá nem para passar. É só dor de cabeça, sem o asfalto. Somente parte do bairro tem a atenção da gestão municipal. Nós somos abandonados”, relata.
No bairro São Bento os problemas são os mesmos. A rua da Lagoa e vias adjacentes não receberam serviços de infraestrutura, prejudicando os moradores da região. “Além de ter que aguentar o fedor [da Lagoa de Estabilização], ainda temos que conviver com a falta de infraestrutura mínima. Nunca passaram asfalto aqui. É tanto dinheiro envolvido e só alguns moradores do bairro são beneficiados, são tratados como cidadãos”, detalhou o morador que preferiu anonimato.
O autônomo Francisco da Silva é morador do bairro Araceli Souto Maior e também relata os transtornos da falta de atenção da gestão municipal. “Moro com minha família na rua Santo Antônio do Abonaré. Aqui não temos asfalto, calçada. A rua tem mais buraco do que tudo, e ainda um esgoto aberto que nos prejudica muito”, informou.
Marli Sousa, moradora do bairro Pedra Pintada, reside na rua Pérola há seis anos. Ela relata que para dar trafegabilidade a algumas vias em situação mais crítica, moradores precisam colocar barro nos buracos. “Nem o carro de lixo consegue chegar às nossas residências para fazer a coleta”, completa.
A Prefeitura de Boa Vista não comentou as falas dos moradores.
