Sempre que a prefeita Teresa Surita (MDB) está em campanha eleitoral, ela não se intimida em falar que quem mora nos bairros periféricos não paga imposto, mais precisamente o Imposto Territorial Urbano (IPTU). Dentro desta visão, é justificável que ela tenha sempre privilegiado as áreas centrais e bairros nobres de Boa Vista, pois, na cabeça dela, é a classe média que merece os bônus por recolher imposto.
Foi sempre assim com recursos destinados a asfaltamento e calçamento de ruas e avenidas, por exemplo, com a prefeita preferindo recapear as avenidas centrais, em vez de pavimentar vias que realmente necessitam de asfalto nos bairros mais distantes. No máximo, a periferia fica com a via principal urbanizada, pois a lógica é que nessas avenidas moram as pessoas de melhor poder aquisitivo.
Mas, como Teresa sempre esteve sob o comando de Romero Jucá (MDB), seu mentor e mestre, que tinha poder ilimitado quando era senador em Brasília, eles planejaram algo bem maior, que foi entregar a Prefeitura de Boa Vista nas mãos de grandes empresas, especialmente as de São Paulo, para fazer tudo, de jardinagem a calçamento, de regrar plantas a coletar lixo, de reformas de praça a iluminação pública, de asfaltamento a construção de grandes obras.
Isso resultou na concentração de muito dinheiro público nas mãos de algumas empresas, um negócio milionário jamais visto, com essas empresas realizando praticamente tudo na Capital, deixando a prefeita livre para ficar na sua bolha virtual, o Twitter, publicando fotos das obras e serviços realizados por essas aglomerações com sede em São Paulo. Como não há transparência nas realizações municipais, ninguém sabe como são feitos essas obras e serviços nem como se desenrola os processos licitatórios.
É isso o que Teresa e Jucá temem: perder esse grande negócio que pode ser comparado como a galinha dos ovos de ouro das grandes corporações paulistas, que por pura coincidência são da mesma terra natal da prefeita (mas são apenas coincidências). Eles temem tanto perder o controle disso tudo, a ponto de Jucá ter insônia em relação às eleições municipais, chegando até a cogitar ser ele o próprio candidato a prefeito, uma vez que o indicado deles não quer decolar. O vice-prefeito Arthur Henrique (PSD) já foi até comparado como um poste por seus opositores.
A espinha dorsal dessa grande fábrica de dinheiro que se tornou Boa Vista é o caso da empresa Sanepav, que nesses 20 anos de administração de Teresa e Jucá já abocanhou cerca de R$400 milhões. E vai continuar ganhando mais até mesmo quando a atual administração chegar ao fim, pois Teresa aproveitou a quarentena, quando todos estavam se trancando em casa, por ordem de um decreto municipal, para prorrogar o contrato de R$77 milhões anuais com a empresa paulista até 2021.
Se for levar em consideração o contrato de outra empresa do mesmo dono, a Beta Clean Service Ltada, o valor pago ao mesmo empresário paulista é estratosférico. Essas duas empresas vêm sendo contratadas e recontratadas ao longo de todas as administrações de Teresa sob o comando de Jucá, mesmo com recorrentes denúncias de irregularidades nos processos licitatórios.
Outra empresa que enche os bolsos com o dinheiro da Prefeitura é a Coema Paisagismo, Urbanização e Serviços Ltda, que de ano em ano abocanha uma média de R$40 milhões para realizar as obras de asfaltamento da cidade, dando prioridade para arrancar o asfalto das ruas centrais para colocar uma nova pavimentação por cima, enquanto a periferia fica no buraco e na lama.
Está nas mãos da Coema a obra que se tornou prioridade absoluta de Teresa e Jucá, que é a construção da nova orla, chamada pomposamente de Parque do Rio Branco, que é o novo bibelô político de Teresa, cuja conclusão da obra irá sediar a festa política dela no fim do ano. O contrato para esta fase da obra é de R$58,4. Mas o custo total dessa orla ultrapassa os R$134 milhões.
Como se pode notar, é muita grana circulando nas mãos das grandes empresas que são pagas a peso de ouro para praticamente realizar tudo na Prefeitura de Boa Vista, enquanto Teresa e Jucá recebem os dividendos políticos de tudo isso; e eles têm pesadelos só em pensar que podem perder a galinha dos ovos de ouro nessas eleições municipais.
Não é à toa que Romero Jucá está desesperado não somente para voltar ao poder, com bônus de ganhar imunidade parlamentar, mas para não perder a chave dos cofres municipais junto com Teresa.
*Colunista
