Desempregado, ex-senador Romero Jucá tem uma extensa ficha de processos judiciais (Foto: Divulgação)

Quem acompanha o desenrolar da política e a História de Roraima sabe que o hoje ex-senador Romero Jucá (MDB) chegou por aqui em 1998 como governador biônico do Território Federal de Roraima, tendo como padrinho político o então presidente José Sarney. Seu poder já vinha desde os tempos da ditadura, uma vez que a família pernambucana de Jucá tinha trânsito e aprovação dos militares.

Foi durante a ditadura que Jucá chegou à política, quando vinha ocupando, desde 1979, aos 25 anos de idade, postos de segundo escalão nas gestões dos governadores de Pernambuco. Com o fim do regime militar, em 1984, e o início da Nova República, não foi difícil os coronéis de Pernambuco o indicar para o coronelato político de José Sarney em Brasília.

Sarney era bem conhecido da população local, pois os maranhenses já eram a maioria dos migrantes em Roraima, expulsos pela miséria em seu Estado protagonizada pela família Sarney, cujo coronelato com poder absoluto no Maranhão extrapolou as fronteiras do Nordeste e se instalou em Brasília.

Nesse tempo Jucá chegou às presidências da Fundação Projeto Rondon, em 1985 e da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1986. Foi no órgão indigenista que Jucá caiu nas graças de mineradoras, madeireiros e grileiros, o que o rendeu 18 processos por corrupção, formação de quadrilha e peculato.

Com essa lista de processos nas costas, mas querido entre militares e os grandes operadores dos esquemas para liberar as terras dos índios Yanomami para mineradores, madeireiros e todos os tipos de grileiros, Romero Jucá foi nomeado governador de Roraima por Sarney. Era a prova de que tinha costas largas e fazia pouco caso da Justiça, poder este que segue até os dias atuais sem conseguir alcançá-lo.

Sempre defendendo o interesse dos grandes

A mineração em terras indígenas sempre foi o principal projeto de Romero Jucá (Foto: Divulgação)

Seus planos de ser o primeiro governador eleito do recém-criado Estado de Roraima não deram certo, em 1990, quando perdeu a eleição para o brigadeiro Ottomar de Sousa Pinto, mas Romero Jucá continuou sendo o grande representante das mineradoras e de todos os tipos de latifundiários com interesses que iam da exploração madeireira ao agronegócio nas terras indígenas ou nas matas ainda intocadas do vasto território roraimense.

Naquele período, em 1987, as terras dos Yanomami começaram a ser invadidas por 40 mil garimpeiros, com as bênçãos de Jucá, tornando Roraima um inferno diante da escalada da violência urbana, miséria na periferia e uma frenética migração. Foi com apoio dos grandes empresários que Romero Jucá elegeu-se senador em 1994, pelo PPR, cargo para o qual se reelegeu em 2002 pelo PSDB e em 2010 pelo PMDB.

Não foi à toa que, durante seus seguidos mandatos, Jucá defendeu a legalização da mineração nas terras indígenas, seja subindo à tribuna ou indo à imprensa, inclusive ele ajudou a alimentar, por meio de uma ostensiva campanha midiática, a paranoia da internacionalização da Amazônia, a partir das terras indígenas em Roraima, que metia mais medo na população local do que o coronavírus de hoje.

Tanto defendeu com unhas e dentes que conseguiu aprovar, no Senado, o Projeto de Lei (PL)1610/1996, de sua autoria, mas que não conseguiu avançar na Câmara porque houve uma grande mobilização contrária. Ao mesmo tempo, a filha dele, Marina Jucá, aos 25 anos de idade, já era dona de uma empresa mineração em Roraima, a Boa Vista Mineração, alvo de uma denúncia em agosto de 2012 na revista Época.

Contando com ovo da galinha: o voto dos roraimenses

No Senado, Romero Jucá sempre trocou de partido para ficar no alto clero (Foto: Divulgação)

Como filhote da ditadura e costas largas para a Justiça, fortalecidas por grandes empresários, Romero Jucá foi muito longe na política brasileira, sempre defendendo seus interesses familiares ou de grupos e contando sempre com o voto da população roraimense, alheia a tudo e submetida a uma alienação capitaneada pela mídia local onde ele também concentra poder.

Foi assim que Jucá passou a ser influente em todos os governos, independente da ideologia partidária. No governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em abril de 1995, Jucá deixou o PPR e foi para o PFL (atual DEM), que compunha junto com o PSDB a base de apoio ao governo. Ele não tardou a pular de galho e, em 1996, foi para o PSDB, chegado finalmente a líder do governo FHC no Senado.

Ao se reeleger em 2002 pelo PSDB, logo em seguida foi para o PMDB (hoje MDB), no ano seguinte, com a missão de fazer parte da base de apoio ao governo petista Lula da Silva. Foi nomeado ministro da Previdência, em 2005, mas logo obrigado a deixar o cargo, dois meses depois, devido a denúncias de corrupção no “Frangogate”. Depois foi galgado a líder do governo no Senado, de 2006 até o 2012, já no governo petista de Dilma Roussef.

Em 2016, quando Dilma foi afastada do cargo por causa do processo de impeachment, Jucá foi nomeado ministro do Planejamento pelo presidente interino Michel Temer (MDB), mas deixou o cargo depois de divulgada uma gravação em que Jucá arquitetava um pacto, “com o Supremo, com tudo”, para frear a Operação Lava Jato, e tramar o impeachment de Dilma para que o vice-presidente, Michel Temer, assumisse em definitivo, o que acabou ocorrendo.

Jucá continuou com trânsito no governo Temer e ainda ajudou a tramar a intervenção federal no Estado de Roraima, para que a então governadora Suely Campos, acuada por denúncias de corrupção e sem conseguir pagar o funcionalismo, deixasse o cargo para que o recém-eleito Antonio Denarium (na época do PSL e hoje sem partido) assumisse como interventor, um mês antes de tomar posse como governador.

Processos e o drible na Justiça até hoje

Romero Jucá sempre escapou dos processos desde a década de 1980 (Foto: Divulgação)

O ex-senador Romero Jucá provou diversas vezes que não teme a Justiça, desde que chegou a Roraima, no final de década de 1988, com 18 processos nas costas por diversas irregularidades à frente da Funai. Tudo isso não deu em nada. Atualmente, são 12 processos contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), boa parte referente à Operação Lava Jato, contra a qual ele apareceu tramando na gravação vazada em 2016. Até agora, nada de novo.

A folha corrida de processos judicias de Jucá é bem mais ampla. Em 2002, o Ministério Público de Roraima abriu investigação sobre um contrato da Prefeitura de Boa Vista, na primeira gestão da prefeita Teresa Surita (que na época era casada com Jucá), com a Cooperativa Roraimense de Serviços. Funcionários desta cooperativa contratados para prestar serviço à Prefeitura teriam sido usados como cabos eleitorais de Jucá.

A cooperativa recebia, por mês, R$1,9 milhão da Prefeitura para pagar os terceirizados. Mas três meses antes da eleição o valor subira para R$2,7 milhões. Naquele mesmo ano, Jucá foi chamado a dar explicações ao Ministério Público Federal sobre o caso que ficou conhecido como “Frangogate”, em que a empresa em que ele era sócio pegou empréstimo do Banco da Amazônia (Basa), denúncia esta que o derrubou do Ministério da Previdência.

Em outro caso, o STF aceitou a denúncia e autorizou a quebra de seus sigilos bancário e fiscal, entre 1996 e 2002, no processo sobre superfaturamento de obras financiadas por recursos federais destinados, por meio de emendas propostas por Jucá, ao Município do Cantá. Conforme a denúncia, parte do valor pago a mais pelas empreiteiras teria ido parar no bolso do então senador. O processo está parado no STF desde 2011.

Em 2014, a Procuradoria Geral da República acusou Jucá de falsidade ideológica, quando teria usado como “laranja” o lobista Geraldo Magela para adquirir, quatro anos antes, a TV Caburaí, afiliada à Rede Bandeirantes em Roraima. Neste episódio, Jucá ainda começou a responder por apropriação indébita de dinheiro do INSS e por não ter pago os impostos da TV Caburaí. Esse processo está parado desde 2012 nas gavetas do STF.

Há outro processo parado também desde 2012 no Supremo que diz respeito à compra de votos nas eleições de 2010, no rumoroso caso do pacote com R$100 mil jogado pela janela do carro e a apreensão de um carro forte. O dinheiro estava em poder do empresário e colaborador voluntário da coligação de Jucá, irmão de um deputado federal da época.

O empresário alegou que recebeu um envelope das mãos de Jucá, momentos antes da abordagem da Polícia Federal. Ao sair do escritório do então senador, percebeu que estava sendo seguido por agentes da PF e que ficou assustado com a situação. Por essa razão, jogou o envelope para fora do carro. O dinheiro foi apreendido.

Quando ainda era senador, Jucá também acabou citado nas apurações relativas à Operação Zelotes, em 2015, em que foi apontado como suspeito de ter recebido propina num esquema de compra de medidas provisórias, conforme apontou o jornal O Estado de S. Paulo.

Ainda em 2015, Jucá apareceu como um dos partícipes num suposto esquema nas obras milionárias da construção da usina nuclear de Angra 3, que teria sido colocado em prática às vésperas das eleições de 2014, quando a Operação Lava Jato já estava em curso, inclusive com suposto envolvimento da trinca do PMDB do Senado – o presidente da Casa, Renan Calheiros, Jucá e Edison Lobão0. Neste novo caso, chamado de eletrolão, os três foram acusados de receber propina, inclusive negociando o pedágio pessoalmente, sem intermediários.

Uma das capas de revista da qual Jucá foi personagem (Imagem: Reprodução)

Romero Jucá ainda é citado nas delações premiadas de dois dos investigados pela Operação Lava Jato. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, relacionou Jucá entre 28 políticos que receberiam propinas a partir de desvio de recursos da estatal. Também o senador Delcídio Amaral, o homem preso com uma mala de dinheiro, fez acusações contra o então parlamentar roraimense.

Blindado mesmo sem emprego

Como se pode notar, Jucá encontra-se desempregado, sem mandato, mas parece ainda que continua blindado pelo seu poder acumulado por prestar serviços a todos os grupos políticos e econômicos, da ditadura à Nova República, de FHC a Lula e Dilma, inclusive seguindo com o governo interino de Temer até o final.

Agora, o ex-senador segue em desespero para voltar ao poder, não apenas para ter imunidade de novo, mas seguir com seus planos de servir aos grandes e a todos os grupos políticos.

*Colunista

1 comentário

  1. Outra vez venho alertar o povo roraimense pra expulsar e banir este bandido ladrão e a Tereza, mandem eles pra bem longe de Roraima se possível lá pra pura que os pariu.

Deixe seu comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here