O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, mandou uma carta para os índios Waimiri-Atroari, de Roraima, pressionou indígenas a liberarem o acesso de agentes em suas terras, para acelerar a licença do Linhão de Tucuruí. O pedido, feito no dia 29 de junho, foi obtido em documento pelo jornal O Estado de S.Paulo.
O presidente da Funai, que contrairia o vírus uma semana depois, dizia em sua carta que não podia esperar pelo fim da pandemia, pelos prejuízos ao setor elétrico. Xavier argumentou que a União tinha que gastar R$ 130 milhões por mês para abastecer Roraima. Ele disse ainda que os funcionários tomariam medidas de segurança para evitar o contágio.
RESPOSTA
Os indígenas, no entanto, negaram o pedido. Em resposta, também obtida pelo jornal, rejeitaram o pedido e afirmaram que só não tinham casos nas aldeias por causa do respeito ao isolamento.
Na carta, também obtida pela reportagem, o presidente da Associação Comunidade Waimiri Atroari, Mario Parwe Atroari, deixa claro que só não tinham casos nas aldeias por causa do respeito ao isolamento.
Lembraram ainda que foram quase dizimados pelo sarampo – e pela violência militar – na década de 1970, na construção da BR-174, e que Marcelo Xavier não fez qualquer menção sobre preocupação com a saúde dos indígenas, mas com gastos com energia. “É como se não existíssemos!”, disse.
“O senhor e outros membros de sua equipe da Funai foram contagiados pela covid-19, mesmo com todos os cuidados que sabemos que o senhor toma. Como o senhor mesmo agora pode ver, essa doença é perigosa e, para gente, ela é muito mais ainda”, complementou o indígena.
Leiloado em setembro de 2011, o Linhão de Tucuruí tinha a previsão para o início da operação em janeiro de 2015. O impasse sobre a questão indígena, no entanto, paralisou o empreendimento, que corta a terra demarcada dos Waimiri.
Do total de 721 km do traçado previsto para ser erguido ao lado da BR-174, rodovia que liga as duas capitais, 125 km passam dentro da terra indígena, onde vivem mais de 2,1 mil índios em 56 aldeias.
Os povos indígenas não são contra o projeto, mas exigem que sejam consultados e que tenham seus pedidos atendidos por causa dos impactos ambientais. Na fase atual, eles aguardam a tradução do estudo de impacto ambiental para dar prosseguimento à execução do projeto.
Roraima tem o suprimento de energia assegurado principalmente por térmicas a óleo. O Estado importava eletricidade da Venezuela, mas o fornecimento foi interrompido em março do ano passado, em meio ao agravamento da crise econômica do país vizinho.
A reportagem questionou a Funai sobre o pedido e aguarda o retorno.
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