Foto: Divulgação

As eleições passadas serviram para ensinar o roraimense algumas lições que precisam ser aprendidas. Houve duas grandes surpresas: a eleição do político profissional Chico Rodrigues (DEM) como senador, algo inesperado; e a de um policial rodoviário federal como deputado federal pelo PSL, Antônio Carlos Nicoletti, galgado pela onda bolsonarista de não político.

Dois extremos que precisam ser bem avaliados pelos eleitores roraimenses. Não há muito o que falar de Nicoletti, outra surpresa, mas desta vez por falta de vínculos com o Estado. Até aqui seu único “feito” foi tentar o impeachment do governador Antonio Denarium (sem partido), o qual passou a ser seu desafeto político depois de terem sido eleitos em situação semelhante sob a onda bolsonarista.

Mas o tempo fará sua parte, o que pode significar quatro anos com um calouro que poderá não passar disso, com grandes prejuízos políticos diante de um provável vácuo. Assim como Denarium, que acabou de ser absolvido pela Justiça Eleitoral, Nicoletti ainda tem mais dois anos para se redimir e mudar sua postura. Mas parece que ele já quer se prefeito, mesmo ninguém sabendo de alguma contribuição que ele tenha dado ao Estado.

Na outra ponta temos Chico Rodrigues, que passou 20 anos na Câmara Federal sem ter apresentado nada a favor de Roraima, a não ser envolvimento em seguidos escândalos e inúmeras viagens para o exterior às custas do Erário. Uma de suas primeiras ações como novo senador foi contratar um parente da família Bolsonaro como “espião de comunista” com um alto salário.

Em 2010, o hoje senador  foi condenado por gastos ilícitos na campanha, o que resultou na cassação de seu mandato como governador e o tornou inelegível por oito anos, com base na Lei da Ficha Limpa. Um mês antes do período eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve a cassação, mas em setembro, quase um mês antes da eleição, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) deferiu o registro de candidatura dele.

Mas a ficha do senador tem mais. O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou Chico Rodrigues por dano ao erário, em 2018, na ação que o acusou de irregularidade na promoção indevida de oficiais do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima quando ele era governador, na chamada “farra dos coronéis”.

Em duas décadas como deputado federal, em 2006 foi apontado como um dos partícipes do esquema de notas frias da Câmara para justificar gastos com combustível e solicitar o reembolso dos valores. Estima-se que o esquema gerou um prejuízo de até R$ 41 milhões aos cofres públicos. Chico Rodrigues foi o campeão de gastos, cujo valor esbanjado por ele seria suficiente para fazer 26 viagens de Manaus (AM) a Porto Alegre (RS). A denúncia lhe valeu o apelido de “Chico Gasolina” à época.

Além disso, ele é réu em uma ação penal que investiga apropriação de dinheiro público de emendas parlamentares, denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) em agosto de 2011, em um suposto esquema que fraudava processos licitatórios realizados pela Prefeitura de São Luiz do Anauá, no Sul do Estado, destinado a plantio de café. Conforme o MPF, a grana liberada pela União, que deveria ser investida no plantio de café, acabava sendo dividida entre os envolvidos, inclusive um dos irmãos, todos acusados de peculato.

Como ninguém dava crédito a Chico Rodrigues, achando que estava no ostracismo político para sempre, acabou sendo eleito senador numa votação histórica. Por isso ele passeou na campanha como se sua ficha não tivesse mácula alguma. Hoje quase ninguém se lembra mais que, ao chegar a Roraima na década de 1980, quando apelido era “Chico Doido”, foi eleito para a Câmara de Vereadores, em 1989, sua estreia na política.

As eleições municipais estão batendo à porta e o eleitor boa-vistense precisa aprender com o passado para não manter a Câmara de Vereadores na pasmaceira que se tornou nos últimos anos, submissa ao Executivo e com a maioria defendendo apenas seus interesses particulares ou de seus grupos a quem deve suas eleições.

O momento para refletir é agora, para não continuarmos reproduzindo políticos sem qualquer compromisso com esse Estado. Não tardará para que eles batam à nossa porta ou entrem em nossos lares pela TV, por suas lives nas redes sociais e por meio de seus “santinhos”.

*Colunista

 

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