Três bebês yanomami morreram vítimas do coronavírus em um hospital de Boa Vista e foram enterrados sem a autorização da comunidade. A informação repercutiu no último dia 25 após o líder indígena Dário Kopenawa, da Hutukara Associação Yanomami, divulgar em suas redes sociais a entrevista que concedeu ao jornal El País.
“Contei que estão enterrando os corpos Yanomami sem que ninguém explique nada, sem que as famílias sejam consultadas, sem que peçam autorizações para as mães. Elas não sabem onde seus filhos estão enterrados. Isso é um crime”, disse.
Os Yanomami têm uma relação diferenciada com a morte. E, por isso, eles não enterram um corpo. Segundo estudiosos, há um rito funerário quando um índio yanomami morre. O ritual é dividido em quatro partes: o início do luto, a exposição do cadáver, a incineração dos ossos e, por último, a ingestão das cinzas.
Não se sabe quando os bebês yanomami morreram. Na entrevista ao jornal El País, Dário Kopenawa, que não foi localizado neste sábado (27) pela reportagem do Roraima 1, pede informações sobre a localização dos corpos. A prefeitura de Boa Vista informou em nota [leia íntegra ao final da reportagem] que dois bebês macuxi morreram nos dias 24 de maio e 5 de junho, e um bebê yanomami no dia 25 de maio.
“Queremos saber onde estão e quando poderemos desenterrar os corpos para levá-los para a aldeia, onde nasceram e cresceram, onde seus pais, seus tios, seus primos estão morando, onde a alma das crianças pode ser feliz. Entendemos a necessidade dos protocolos [de biossegurança], mas precisamos ter informação e compreender o que vai acontecer. Precisamos saber quando os corpos serão devolvidos. Queremos saber quanto tempo o vírus sobrevive no corpo. Se os infectologistas nos explicam, a gente entende e pode respeitar. E podemos transmitir essa informação para a comunidade.”, disse na entrevista publicada no dia 24 de junho.
Nas redes sociais, o governador de Roraima, Antonio Denarium (sem partido), passou a responsabilidade para a Prefeitura de Boa Vista. “Após o 32° dia de vida, a responsabilidade pelo atendimento de saúde passa a ser das unidades municipais, no caso, em Boa Vista, o Hospital Santo Antônio, da Pref. de Boa Vista”, disse neste sábado.
Por meio de nota, o governo de Roraima acrescentou que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, é responsável por coordenar e executar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, e todo o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no Sistema Único de Saúde (SUS).
Já a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), quando questionada nas redes sociais, disse que também busca informações: “Estou tanto qto vcs querendo saber o q houve. To na causa com vcs. A covid é p/ tds e existe nível de competência. Cuidamos das crianças no hospital e dps disso não podemos definir o q acontece por se tratar de questão indígena responsabilidade do DSEI. Estou querendo respostas”, publicou no Twitter.
Estou tanto qto vcs querendo saber o q houve. To na causa com vcs. A covid é p/ tds e existe nível de competência. Cuidamos das crianças no hospital e dps disso não podemos definir o q acontece por se tratar de questão indígena responsabilidade do DSEI. Estou querendo respostas. https://t.co/HeBlaeoK1T
— Teresa Surita (@Teresa_Surita) June 27, 2020
O que a prefeitura diz
De acordo com informações da Prefeitura de Boa Vista, em nota ao Roraima 1, as três crianças indígenas, uma da etnia Yanomami, com idade de dois meses, veio a óbito no dia 25 de maio e as demais da etnia Macuxi, com idade de 3 meses, morreram nos dias 24 de maio e 5 de junho.
A prefeitura informou que, conforme levantamento junto as funerárias de Boa Vista e informações das próprias certidões de óbitos, as duas indígenas Macuxi foram enterradas no Cemitério Campo da Saudade, em Boa Vista, pela funerária Shallon com acompanhamento da mãe, e a criança da etnia Yanomami foi sepultada pela funerária Boa Vista na comunidade Xexana, também conforme certidão de óbito.
“Em caso de morte de indígenas, o DSEI é acionado pelo Hospital [Hospital da Criança] e o encaminhamento dos óbitos passa a ser de responsabilidade do órgão Federal, com o acompanhamento dos familiares”, explicou a nota.
Nota na íntegra
A Prefeitura de Boa Vista informa que as crianças tiveram todo o atendimento e apoio necessários pelas equipes de saúde e que, por tratar-se de indígenas, há um protocolo obrigatório do Hospital da Criança Santo Antônio com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) para sepultamentos e velórios. O Dsei é um órgão de responsabilidade do Governo Federal que trata de populações indígenas.
Em caso de morte de indígenas, o DSEI é acionado pelo Hospital e o encaminhamento dos óbitos passa a ser de responsabilidade do órgão Federal, com o acompanhamento dos famíliares.
As três crianças indígenas, uma da etnia Yanomami, com idade de 2 meses, veio a óbito dia 25/05/2020 e as demais da etnia Macuxi, com idade de 3 meses, vieram a óbito dias 24/05/2020 e 05/06/2020.
Conforme levantamento junto as funerárias de Boa Vista e informações das próprias certidões de óbitos,
verificou-se que as duas indígenas Macuxi foram sepultadas no Cemitério Campo da Saudade, em Boa Vista, pela funerária Shallon com acompanhamento da mãe.
Já a criança da etnia Yanomami foi sepultada pela funerária Boa Vista na comunidade Xexana, também conforme certidão de óbito.
Todos os procedimentos do Hospital da Criança até a entrega dos corpos à funerária contratada pelo DSEI estão registrados no livro de ocorrência do Serviço Social do Hospital, com assinatura do responsável pelo translado dos corpos.
Até o momento, 8 crianças indígenas testaram positivo para Covid-19.
A Prefeitura de Boa Vista solidariza-se com as famílias e já solicitou ao DSEI e ao Governo Federal que preste todos os esclarecimentos a respeito.
*Matéria atualizada às 17h34